
Um Ministro da Fazenda nunca será uma unanimidade. É próprio da função desagradar algum setor da sociedade, em geral, o mundo da política, dos negócios ou dos chamados movimentos sociais se mostrarão, cada um a seu modo e em suas circunstâncias, satisfeito ou insatisfeito com a condução da economia.
No momento, o capitão da economia é Fernando Haddad, que, inclusive, já declarou saber muito pouco de economia. Isso seria um aspecto menor, bastando lembrar aqui, só para ilustrar que, mesmo sendo médico e sem conhecimento específico em economia, foi Ministro da Fazenda de Dilma e foi muito bem avaliado.
O ponto é que o titular da economia deve ser alguém prestigiado pelo Presidente da República que, afinal de contas, foi quem o nomeou. E é aí surge o ponto diferencial negativo na relação Haddad-Lula: cumprindo uma tendência pessoal tradicional, histórica, Lula não banca ninguém. Sua visão é: “foi bem, ótimo; não foi bem, tenho nada a ver com isso”.
De fato, basta lembrarmos do Mensalão e da prisão de petistas de alto coturno como José Dirceu, o grande czar da política nos dois primeiros mandatos petistas, e José Genoíno que, quando foi preso, era simplesmente presidente licenciado do PT, mesmo João Vaccari Neto, antigo presidente da Bancoop e fiel aliado do presidente. Lula, entrevistado, negou que fosse amigos dessas pessoas — e efetivamente eram — e ainda falou que nada tinha a ver com os fatos relatados. E tinha.
Lula escolheu Haddad para o cargo mais prestigioso de seu ministério por confiar nele num plano pessoal. Contudo, por mais paradoxal que isso possa soar, Lula não se sente responsável pelos problemas que a economia possa apresentar e muito menos se sente compelido a prestigiar Haddad.
O símbolo maior desse desprestígio foi a última reunião ministerial ocorrida em 16 de fevereiro passado, um domingo, em que o grande alvo das críticas de outros ministros foi justamente Haddad, que estava ausente do evento, cumprindo agenda no exterior. Ora, se não houve um sentimento espontâneo de apoio ao ministro da Fazenda por parte dos demais ministros, caberia à Lula fazer isso ou, até melhor, adiar a reunião para que Haddad dela pudesse participar.
Mas, como se vê, fritar em fogo baixo quem se mostra em desgaste público é uma postura tradicional de Lula, sendo Haddad apenas o alvo do momento.