Aves ‘adotam’ casinhas produzidas por observador


Iniciativa pretende contribuir com as espécies que frequentam a propriedade em São Bernardo do Campo (SP). Casal de tucano-de-bico-verde completou todo o processo reprodutivo no ninho artificial. Casal de tucano-de-bico-verde completou todo o processo reprodutivo no ninho artificial
Edney Bento
Ter o privilégio de acompanhar, no celular, o processo de reprodução de uma linda espécie da Mata Atlântica é um feito comemorado todos os dias pelo observador Edney Bento, que há cerca de um ano teve uma ideia para se aproximar ainda mais das aves que visitam a chácara dele, em São Bernardo do Campo (SP).
Edney e o irmão Aléssio Bento construíram 4 casinhas de madeira e de bambu, e colocaram câmeras em cada uma delas. As caixas-ninho foram espalhadas nas árvores da propriedade. “Eu via sempre muitas aves, então tive essa ideia de colocar a casinha e junto uma câmera. Pensei: vamos ver o que aparece”, conta.
Depois de algum tempo, os visitantes começaram a aparecer: primeiro uma corujinha-do-mato (Megascops choliba), depois o que parece ser um pica-pau-de-cabeça-amarela (Celeus flavescens). Uma corruíra (Troglodytes musculus) foi a primeira a usar o lugar como ninho. Mas o que chamou a atenção foi a movimentação de um casal de tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus).
Corujinha-do-mato foi flagrada na caixa-ninho
Edney Bento
Edney percebeu que as aves se planejavam para ter os filhotes ali. “Eles começaram a jogar muitas sementes dentro da casa e passaram a defender o território, afugentando outros indivíduos que se aproximavam”, detalha o observador.
A partir daí, Edney passou a monitorar constantemente tudo o que acontecia dentro da casinha. Como a câmera é ligada a um aplicativo, ele conseguia ver tudo praticamente em tempo real. “Eu acordo ansioso, a primeira coisa que eu fazia era ver os registros. Pontualmente às 5h20 da manhã eles entram”, explica.
A movimentação começou em novembro do ano passado. Semanas depois, 4 ovos foram colocados e 3 três filhotes nasceram, porém um deles não resistiu. Edney acompanhou tudo.
4 ovos foram colocados e 3 três filhotes nasceram, porém um deles não resistiu
Edney Bento
“Aprendi muita coisa com esse ninho. Notei que eles usam sementes para forrar o ninho e algumas semanas depois que os filhotes nascem, retiram tudo. Eles tratam os filhotes com muitas sementes e, às vezes, proteína, filhotes de outras aves, perereca, cigarra, camundongo. Muita coisa não conseguia gravar porque os pais tampavam a entrada de luz da casinha quando chegavam. No final do dia é limpeza do ninho. A mãe tirou o ovo que não eclodiu e o filhote que morreu”, relembra o observador.
Segundo Edney os filhotes que sobreviveram já voaram para ganhar o mundo e foram vistos ao redor da chácara. Algumas imagens das câmeras de monitoramento registraram a tentativa deles de deixar o ninho.
Adultos passaram a defender o território para proteger os filhotes
Edney Bento
Observador e guardião da natureza
A chácara de Edney fica a cerca de cinco quilômetros do Parque Estadual da Serra do Mar. Por conta disso, com frequência, ele tem encontros especiais. Edney também atua como guarda ambiental em toda a área de São Bernardo do Campo no combate a crimes ambientais.
Um dos registros que ele fez em casa, por acaso, e que fez muito sucesso foi o da transformação de uma cigarra, flagrada em detalhes. O inseto estava em cabo de vassoura e chamou a atenção pelas cores. O Terra da Gente contou essa história em novembro de 2024.
Edney conta que gosta de compartilhar seus vídeos para levar um pouco de leveza à vida das pessoas. “Muita gente me fala que não aguenta mais ver notícias de violência. Então, mostrar a vida se renovando desta forma, é algo que inspira e traz esperança”, finaliza o observador.
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