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Os conservadores alemães do partido União Democrática Cristã (CDU) venceram as eleições legislativas deste domingo (23), marcadas por uma votação recorde da extrema-direita. O pleito é crucial para a Europa, que enfrenta a incerteza diante da fratura com os Estados Unidos de Donald Trump.
O resultado oficial confirmou as pesquisas de boca de urna e de intenção de voto. Embora vencedor, o CDU não obteve a maioria necessária para governar, e caberá agora ao líder dos conservadores, Friedrich Merz, tentar alianças com outros partidos para conseguir formar governo.
Merz assumiu o compromisso de iniciar nesta segunda-feira (24) as difíceis negociações para formar uma coalizão de governo, com o alerta de que o “o mundo não está nos esperando”, aponta a agência de notícias AFP.
Ele fez uma advertência sobre o risco de paralisação em Berlim, no momento em que Trump abala a ordem internacional, a economia alemã está em recessão e a sociedade está dividida após uma campanha que polarizou o país. Friedrich Merz declarou que uma Europa Unida deve fortalecer sua própria defesa e que não tem “ilusões com o que virá dos Estados Unidos”.
Votação recorde da extrema-direita
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Os partidos conservadores CDU/CSU superaram os social-democratas (SPD) do chanceler Olaf Scholz e os Verdes, enquanto a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita e com uma política anti-imigração, registrou uma campanha recorde com 20% dos votos.
Apesar da intensa campanha, dominada por temas migratórios, Merz precisará se aproximar de seus rivais nas eleições para formar o governo. Segundo a AFP, o SPD vai participar das negociações sem Scholz, que assumiu a responsabilidade por uma “derrota amarga”.
“Devemos formar um governo estável o mais rápido possível, com uma boa e estável maioria”, disse Merz, que explicou em tom conciliador que “agora devemos conversar entre nós”. Ele espera ter o governo formado até meados de abril.
Confira os resultados:
- A coalizão dos partidos conservadores CDU/CSU, com Friedrich Merz, oposição ao atual governo, teve 28,5% dos votos;
- O partido AfD levou cerca de 20,5% dos votos;
- O Social-Democrata, do atual governo de Olaf Scholz, apareceu na terceira posição, com 16,5%;
- O Partido Verde teve 11,8% dos votos e ficou em quarto lugar;
- Em quinto lugar, o bloco de siglas da esquerda obteve 8,7% dos votos.
Relação com os EUA
Merz também precisará estabelecer uma comunicação com Trump, que provocou inquietação na Ucrânia e entre os apoiadores europeus de Kiev com sua aproximação do presidente russo, Vladimir Putin. O presidente dos EUA chamou a vitória dos conservadores de “um grande dia para a Alemanha e para os Estados Unidos”.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, parabenizou Merz por sua vitória e afirmou estar ansioso para trabalhar com ele “neste momento crucial para nossa segurança compartilhada”, de acordo com a AFP. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, parabenizou Merz e disse que espera trabalhar com ele para “fortalecer a Europa”.
Sem a extrema-direita
O partido anti-imigração e pró-Rússia AfD conseguiu impor seus temas durante a campanha, que aconteceu em um clima tenso, marcado por vários ataques fatais executados nas últimas semanas por estrangeiros no país.
Merz e líderes de outros grandes partidos prometeram deixar a AfD de fora do governo, atrás de um “muro de proteção, de cooperação”.
A campanha alemã foi influenciada pelas ordens executivas e declarações do presidente dos Estados Unidos, assim como pela interferência de seu entorno a favor da extrema-direita.
Segundo a agência AFP, o vice-presidente americano, JD Vance, e o bilionário Elon Musk, assessor de Trump, apoiaram a AfD e aumentaram a visibilidade do partido.