Avanço da extrema direita e influência dos EUA geram clima de tensão no último dia de campanha na Alemanha

A Alemanha vive neste sábado (22) o último dia de campanha antes das eleições gerais cruciais para a União Europeia (UE), nas quais a oposição conservadora é considerada favorita e a extrema direita, em 2º nas pesquisas de intenção de voto, deve obter desempenho recorde.
O resultado das eleições será acompanhado ao redor do planeta, no momento em que a Alemanha e a Europa continuam digerindo os anúncios do novo governo dos Estados Unidos sobre a Ucrânia e as tarifas.
No país, o clima ficou ainda mais tenso após vários ataques fatais ocorridos nas últimas semanas, que abalaram a opinião pública.
Um turista espanhol ficou gravemente ferido na noite de sexta-feira em um ataque diante do Memorial do Holocausto em Berlim. Um suspeito sírio de 19 anos foi detido no local e as autoridades afirmaram neste sábado, em um comunicado, que ele “teria planejado durante várias semanas matar judeus e foi neste contexto que teria escolhido o local” da ação.
Durante a detenção, o suspeito “tinha em sua mochila um tapete de oração, um Alcorão, um papel com versos do Alcorão e a suposta arma do crime, o que sugere uma motivação religiosa”, afirma um comunicado das forças de segurança.
Além da questão da segurança, a maior economia da zona do euro também enfrenta uma recessão há dois anos e seu modelo industrial, que será uma das prioridades do próximo governo, está em plena crise.
O líder do partido conservador CDU/CSU, Friedrich Merz, é o favorito para suceder o atual chefe de Governo social-democrata, Olaf Scholz.
Advogado empresarial, 69 anos, Merz precisará, no entanto, de uma votação expressiva para ter condições de negociar com força a próxima coalizão.
Interferências e desinformação
As pesquisas mais recentes atribuem ao CDU/CSU um resultado próximo de 30%, o que significa que Merz precisará formar uma aliança com pelo menos outro partido para formar o governo. As negociações poderão durar várias semanas.
Friedrich Merz descartou governar com o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que pode dobrar seu resultado na comparação com as últimas legislativas e alcançar quase 20% dos votos.
“Estamos fundamentalmente divididos em vários pontos, em termos de política econômica e de política migratória”, afirmou na sexta-feira o líder conservador, criticado durante a campanha por iniciar uma aproximação com a extrema direita.
Poucas vezes a Alemanha, em geral adepta dos compromissos, viu debates tão polarizados e impactados pelo cenário internacional.
A onda expansiva das primeiras semanas do mandato do presidente americano, Donald Trump, sacudiu a campanha, marcada por interferências de Washington e desinformação russa.
O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, e o bilionário Elon Musk, conselheiro de Trump, apoiaram a AfD e aumentaram a visibilidade do partido de extrema direita.
Duas manifestações de simpatizantes de extrema direita foram convocadas para este sábado em Berlim. Os críticos dos extremistas se reunirão no centro da cidade.
Os líderes políticos alemães, visceralmente apegados à relação transatlântica, estão conscientes da mudança de cenário marcada pelo segundo mandato de Trump.
‘Líder na Europa’
Durante o último comício de campanha, na sexta-feira em Dortmund, reduto social-democrata, Scholz respondeu a Trump e reafirmou seu apoio à soberania da Ucrânia diante da Rússia. Também defendeu a política alemã de liberdade de expressão, criticada por Washington.
O Partido Social-Democrata (SPD) enfrenta o risco de sofrer uma derrota histórica. As pesquisas mostram que está em terceiro lugar, com 15% das intenções de voto, atrás da extrema direita.
Um dos principais temas da campanha foi a imigração, acima das questões econômicas e sociais.
Diante de Trump e dos desafios geopolíticos, o futuro chanceler alemão deverá “retomar um papel de líder na Europa”, insistiu esta semana Friedrich Merz.
O candidato conservador deseja formar um governo até o final de abril. Mas a aposta dependerá em grande parte dos resultados dos pequenos grupos políticos nas eleições legislativas.
Se estes grupos superarem a barreira de 5%, estarão representados no Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento, o que dificultará a formação de uma coalizão de governo de dois partidos.
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