‘Relógio caro, quanto é que tá?’, perguntou Bolsonaro sobre joia vendida nos EUA, segundo Cid


Delação do tenente-coronel indica que Bolsonaro sabia de valor elevado do relógio, vendido com outras joias por US$ 68 mil, cerca de R$ 350 mil. Ex-presidente foi indiciado por três crimes no inquérito das joias: peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. PF afirma que um relógio da marca Patek Philippe foi colocado à venda nos EUA e, agora, quer descobrir onde o presente foi parar
Jornal Nacional/ Reprodução
Jair Bolsonaro (PL) perguntou qual o valor de um dos relógios recebidos enquanto era presidente e, posteriormente, acabou vendidos por aliados nos Estados Unidos, segundo delação de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. O ex-presidente foi indiciado no inquérito das joias em julho de 2024 (leia mais abaixo).
Relembre o inquérito das joias em que Bolsonaro foi indiciado
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Em depoimento dado no dia 11 de março de 2024, Cid afirma à Polícia Federal que Bolsonaro recebeu um dos kits de joias em viagem ao Bahrein em 2021.
Ao ver as joias, Bolsonaro perguntou o valor de um relógio Patek Philippe, segundo Cid:
“Pô, relógio caro, quanto é que tá?”.
Bolsonaro e seu então ajudante de ordens Mauro Cid em 2019
Adriano Machado/Reuters
Em seguida, o tenente-coronel disse que pesquisou na internet e fez um print para “ter uma noção do valor” do relógio.
O Patek Philippe foi vendido por aliados de Bolsonaro nos Estados Unidos junto de outro relógio, um Rolex de ouro branco com diamantes, por US$ 68 mil (pouco menos de R$ 347 mil na cotação da época, segundo a PF).
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Bolsonaro foi indiciado junto de 11 pessoas em julho de 2024 no inquérito das joias, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ex-presidente é suspeito de ter cometido os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Bolsonaro sempre negou os crimes.
O que significa cada um desses crimes?
Peculato: Apropriação de bens públicos por um agente público ou desvio de recursos em proveito próprio. Pena: reclusão de 2 a 12 anos e multa.
Associação Criminosa: Associação de três ou mais pessoas para cometer crimes. Pena: reclusão de 1 a 3 anos.
Lavagem de Dinheiro: Ocultação ou dissimulação da natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens provenientes de infração penal. Pena: reclusão de 3 a 10 anos e multa.
Caso das joias
Os primeiros indícios envolvendo o caso das joias surgiram em março de 2023. Na época, um kit de joias dado pela Arábia Saudita ao governo Bolsonaro ficou retido no Aeroporto de Guarulhos, na Receita Federal, desde o fim de 2021.
Os itens foram encontrados, em 26 de outubro daquele ano, na mochila do militar Marcos André dos Santos Soeiro, que assessorava o então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque.
PF indicia Bolsonaro e mais onze no inquérito do desvio e venda de joias presenteadas ao governo brasileiro
As joias de luxo — avaliadas, após conclusão de perícias, em R$ 5,1 milhões — foram apreendidas porque o governo não as declarou como um presente de estado nem pagou os impostos devidos para que os itens pudessem entrar no país como item pessoal.
Em março de 2023, a Polícia Federal, abriu um inquérito para investigar o caso e os envolvidos. No caso, Jair Bolsonaro e o entorno dele.
Em abril daquele ano, Bolsonaro prestou depoimento à PF sobre o caso. Ele negou irregularidades e disse que soube das joias um ano depois da apreensão, mas que não se lembra quem o avisou sobre a existência dos itens.
Além de Bolsonaro, foram indiciadas outras 11 pessoas – todas por associação criminosa, 7 por peculato, 9 por lavagem de dinheiro e 1 – o ex-chefe da Receita Julio Cesar Vieira Gomes – por advocacia administrativa. Veja os nomes abaixo:
Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia de Bolsonaro (peculato e associação criminosa);
José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia (peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro);
Julio César Vieira Gomes, auditor-fiscal e ex-secretário da Receita peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e advocacia administrativa);
Marcelo da Silva Vieira, chefe do gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República no mandato de Bolsonaro (peculato e associação criminosa);
Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro (lavagem de dinheiro);
Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque (peculato e associação criminosa);
Mauro Cesar Barbosa Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro);
Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-secretário de Comunicação (lavagem de dinheiro e associação criminosa);
Frederick Wassef, advogado do ex-presidente (lavagem de dinheiro e associação criminosa);
Mauro Cesar Lourena Cid, general da reserva do Exército (lavagem de dinheiro e associação criminosa);
Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro (lavagem de dinheiro e associação criminosa).
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