O prefeito de Guarujá Farid Madi (Podemos) publicou um vídeo no Instagram bebendo a água do mar para provar que a praia não está contaminada na cidade. O local escolhido foi a praia de Pitangueiras que, de acordo com boletim da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), está liberada para banho. A região da Baixada Santista sofre com um surto de virose que atingiu diversos municípios na virada do ano com a presença do norovírus.
No entanto, estar liberada para banho é uma coisa, não significa que se pode beber. Segundo o chefe do departamento de infectologia da Unesp, Alexandre Naime Barbosa, a água do mar é “extremamente prejudicial à saúde devido à alta concentração de sal e possíveis contaminantes, em qualquer quantidade”.
“O excesso de sal força os rins a trabalhar mais para eliminá-lo, causando desidratação severa e desequilíbrios eletrolíticos, que podem levar a cãibras, fraqueza, confusão mental e até convulsões. Além disso, a ingestão pode sobrecarregar os rins, resultando em insuficiência renal”, disse ele, em entrevista ao portal iG.
“A água do mar também pode conter agentes infecciosos, como bactérias, vírus, parasitas, além de poluentes químicos e toxinas de algas, provocando infecções e intoxicações. Portanto, beber água do mar em qualquer quantidade não é seguro em nenhuma circunstância, sendo péssimo o exemplo do prefeito para a população desavisada”, completou.
Naime Barbosa aponta ainda que as principais causas de transmissão da virose ocorre pelo contato direto entre pessoas, como ao tocar alguém infectado, especialmente se essa pessoa não lavou as mãos adequadamente após usar o banheiro ou vomitar.
Além disso, outra via comum é o consumo de alimentos ou bebidas contaminados. Isso pode acontecer quando manipuladores infectados não higienizam as mãos, alimentos entram em contato com superfícies contaminadas ou a água usada na sua preparação está contaminada.
“Além disso, o vírus pode ser ingerido ao beber água contaminada de fontes não tratadas, como mar, rios, lagos ou piscinas. O contato com superfícies contaminadas também é um risco significativo, já que o vírus pode sobreviver por dias em locais como maçanetas, mesas e utensílios. Partículas microscópicas do vírus também podem ser inaladas, especialmente durante episódios de vômito, já que elas podem se dispersar no ar ou pousar em superfícies próximas. Além disso, roupas, toalhas e outros objetos usados por pessoas infectadas podem carregar o vírus”, diz.
Para prevenir a transmissão, é fundamental lavar as mãos frequentemente, desinfetar superfícies regularmente e garantir cuidados no manuseio de alimentos e na higiene de ambientes e objetos.
Por fim, ele recomenda que a população não faça o mesmo que o prefeito, ao engolir água do mar, que pode estar contaminada, especialmente em áreas próximas a esgotos ou com grande circulação de pessoas.
Veja as principais recomendações do infectologista:
- Deve-se sempre optar por praias com boa qualidade de água, verificando relatórios de balneabilidade antes de visitá-las.
- Deve-se higienizar as mãos com água limpa e sabão antes de consumir alimentos ou após usar o banheiro.
- Caso não haja acesso a água potável, é recomendado o uso de lenços umedecidos ou desinfetantes apropriados, lembrando que o álcool em gel não é eficaz contra o norovírus.
- Também é essencial cuidar da alimentação. Deve-se evitar consumir frutos do mar crus ou mal cozidos e dar preferência a alimentos preparados em locais confiáveis e higienizados.
- Além disso, é fundamental descartar resíduos corretamente e evitar áreas onde lixo ou dejetos possam contaminar a areia ou a água.
- Objetos pessoais, como toalhas, roupas de banho e brinquedos utilizados na praia, devem ser lavados adequadamente após o uso, já que o vírus pode aderir a essas superfícies.
- Recomenda-se evitar aglomerações em praias superlotadas, onde o risco de transmissão é maior, e, caso alguém do grupo apresente sintomas de norovírus, como diarreia ou vômitos, deve-se evitar compartilhar alimentos, utensílios ou objetos.
O que se sabe
O norovírus, causador de gastroenterite com sintomas como diarreia intensa, vômitos e febre alta, foi detectado em amostras de água coletadas nas cidades do Guarujá e Praia Grande, no litoral paulista. A transmissão do vírus ocorre por via oral-fecal, e o agente é altamente contagioso, o que tem contribuído para o aumento dos casos de virose na região.
No verão, é comum o aumento de infecções gastrointestinais, mas o número de casos registrados no Guarujá superou as expectativas para o período. Em dezembro, a cidade registrou 2.064 atendimentos relacionados a gastroenterites, um aumento em relação aos 1.457 atendimentos registrados em novembro. Um surto ocorre quando há um número maior de casos de uma doença do que o esperado para aquele período e local.
De acordo com o Ministério da Saúde, as doenças infecciosas gastrointestinais geralmente têm uma duração autolimitada de até 14 dias, mas podem evoluir para quadros mais graves, como desidratação, dependendo do agente causador e da saúde do paciente. Alguns fatores que favorecem a infecção incluem:
- Ingestão de água sem tratamento adequado
- Consumo de alimentos de procedência desconhecida ou mal preparados
- Consumo de leite in natura ou derivados não pasteurizados
- Consumo de carnes, pescados e mariscos crus ou mal cozidos
- Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada
- Viagens a locais com condições precárias de saneamento e higiene
- Falta de higiene pessoal
Tratamento da infecção
O tratamento para gastroenterites causadas por norovírus é focado em evitar a desidratação, com a ingestão de líquidos e soluções de sais de reidratação oral. Em casos mais graves, podem ser necessários fluidos endovenosos. Medicamentos podem ser usados para aliviar os sintomas, como remédios para enjoo e analgésicos para cólicas.
Como se proteger
O Ministério da Saúde recomenda algumas medidas para prevenir doenças infecciosas gastrointestinais:
- Lavar as mãos com sabão e água limpa, especialmente antes de preparar ou consumir alimentos, após ir ao banheiro, após utilizar transporte público ou tocar superfícies sujas, e após tocar em animais.
- Desinfetar superfícies e utensílios utilizados na preparação de alimentos.
- Proteger os alimentos de insetos, animais de estimação e outros animais, armazenando-os em recipientes fechados.
- Tratar a água para consumo, seja filtrando, fervendo ou colocando duas gotas de solução de hipoclorito de sódio para cada litro de água, aguardando 30 minutos antes de usar.
- Evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos, especialmente carnes, pescados e mariscos.
- Manter o lixo bem fechado e enterrá-lo adequadamente quando não houver coleta.
- Usar sempre o vaso sanitário e, se necessário, enterrar as fezes longe dos cursos de água.
- Manter o aleitamento materno, pois ele fortalece a resistência das crianças contra diarreias.