Prefeitura e Polícia Civil apuram possível erro médico que pode ter levado criança de 1 ano e 5 meses à morte em Angra dos Reis: ‘Foi um descaso, uma negligência’, diz mãe


Giliane Castilho Reis diz que o filho, Murillo Castilho de Souza, recebeu uma injeção de benzetacil na UPA do bairro Japuíba e perdeu os movimentos. Menino morreu no colo dela, na quarta-feira, dentro de um ônibus, enquanto retornava à unidade pela quarta vez. Giliane e o filho Murillo
Reprodução/Arquivo Pessoal
A prefeitura de Angra dos Reis (RJ) e a Polícia Civil estão apurando um possível erro médico que pode ter levado à morte de Murillo Castilho de Souza, de 1 ano e 5 meses.
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Segundo a mãe do menino, Giliane Castilho Reis, Murillo foi medicado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) infantil Agda Maria, no bairro Japuíba, com uma injeção de benzetacil na terça-feira (2), após voltar a ter febre alta pelo segundo dia seguido.
Ainda de acordo com a mãe, até a tarde de quarta-feira (3), quando faleceu, Murillo chorava de muita dor e não conseguia ficar em pé. A mulher afirma que o filho foi vítima de negligência (entenda abaixo).
“Foi um descaso, uma negligência. A gente está aqui tentando provar que foi uma negligência. E eu to aqui. Não sei o que pensar. Não sei o que provar. Não sei o que fazer. Eu só sei que eu perdi meu filho”, disse a mãe.
Febre começou na segunda
Giliane levou o filho pela primeira vez à UPA na segunda-feira (1°), quando chegou do serviço e o encontrou com uma febre de 39,8°C.
“Eles [equipe médica] viram que era uma febre muito alta e levaram o Murillo imediatamente para o consultório médico. Lá, o pediatra que estava de plantão olhou a garganta dele, viu que estava infeccionada, passou alguns antibióticos e me liberou com ele. Disse que era para eu passar [a medicação] por sete, dez dias. E aí, eu vim embora com ele”, contou a mãe.
De acordo com a Giliane, os medicamentos surtiram efeito e a febre abaixou. O menino dormiu e acordou no dia seguinte bem, brincando e comendo — o que, segundo ela, não estava acontecendo.
Aplicação da benzetacil
Na noite de terça, Murillo voltou a ter febre alta e foi levado para a UPA novamente. Ele passou pela classificação de risco e recebeu uma injeção de dipirona nas nádegas enquanto aguardava para ser atendido pela médica.
“Fomos atendidos pela doutora, que passou a benzetacil para ele. Eu questionei: ‘Mas a benzetacil é muito forte. Meu filho é novinho’. Aí, ela disse: ‘Ou você passa ou você fica aqui internada com ele alguns dias’. Eu disse: ‘Tá bom. Prefiro a benzetacil, porque vai ser só uma dorzinha forte e vai passar, né?’ Aí, ela disse: ‘é”, relembrou a mãe.
Enquanto recebia a injeção, Giliane contou que o filho chorava muito. A pedido da equipe médica, ela esperou 20 minutos para que a injeção fizesse efeito e, em seguida, foi embora com o menino.
“Quando a gente chegou em casa, colocamos ele no sofá para a gente comer alguma coisa. Quando a minha mãe foi olhar para ele para dar pão, notamos que o Murillo já não se mexia mais. O Murillo só olhava de lado com o olho”, disse Giliane.
A mãe contou que, até o início da madrugada, Murillo não parava de chorar e não estava se mexendo. Ele chegou a dormir um pouco, mas acordou “chorando e gritando muito”.
“Era uma coisa desesperadora. Eu, imediatamente, liguei para minha mãe e pedi para ela ir para minha casa, porque eu não estava sabendo lidar com aquilo”.
Terceira ida à UPA
Ainda durante a madrugada de quarta-feira (3), Giliane, acompanhada da mãe, voltou à UPA com Murillo pela terceira vez. Segundo ela, a médica de plantão “disse que era normal ele não ser mexer, porque ele tinha tomado uma injeção forte”.
Murillo foi medicado com ibuprofeno e dipirona. A médica pediu ainda para que ele ficasse de repouso até o início da manhã daquele dia.
“Ele chorava o tempo todo, tentava dormir e não conseguia. E aí, foi passando a hora…deu 7h10/7h15, eu fiquei com vontade de ir ao banheiro. [Como] ele estava acordado chorando, eu levei ele. Eu cheguei no banheiro, fechei a porta e disse: ‘Murilo, fica em pé só pra mamãe fazer xixi e eu já te pego no colo’. Quando eu coloquei ele no chão, meu filho bambeou, bambeou, bambeou e caiu de cara no chão. Ele já não tinha mais os movimentos do corpo”, relembrou Giliane.
“Eu comecei a entrar em desespero e fui pra sala de medicação perguntando se era normal. Eles pediram pra eu voltar na sala da médica, a mesma que deu a benzetacil pra ele. Entrei na sala e perguntei: ‘Tem mais alguma medicação pra ser feita? Meu filho não está andando’. Ela disse: ‘Não. Se eu for passar pra ele será só uma dipirona”.
A médica disse que Giliane podia voltar para casa com o filho, de onde continuou com a medicação. Porém, durante a tarde, por volta de 14h, saiu de casa para ir à UPA novamente, pois Murillo “estava muito mole”.
Criança morreu nos braços da mãe
“Peguei o Murillo, o vesti e desci com ele para o ponto. Quando eu cheguei no ponto, já estava vindo um ônibus. Eu, imediatamente, entrei no ônibus e sentei com o Murillo. Eu moro no Areal, chegando na altura da Nova Angra, eu olhei pra cara do meu filho, o meu filho suspirou, abriu a boca e faleceu.”
Giliane afirmou que o motorista foi direto para a UPA, não parando em ponto nenhum.
“Uma senhora pegou o Murillo imediatamente do meu colo, descemos na UPA correndo, chegamos com o Murillo na UPA, só que ele já não estava mais respirando. Eles [equipe médica] tentaram reanimar, meu filho voltou, mas não resistiu”, recordou.
A mulher contou que não recebeu amparo e suporte de ninguém da UPA, apenas do médico que tentou reanimar o menino e deu a notícia a ela de que o menino não tinha resistido.
“Estava todo mundo lá e ninguém veio falar comigo até agora. Só se pronunciaram em rede social”.
O que diz a prefeitura?
Em nota, a prefeitura informou que a secretaria municipal de Saúde criou uma Comissão de Investigação Especial, composta por médicos e profissionais com experiência na pediatria, para apurar o caso e “solicitou à empresa responsável pelos profissionais da unidade o imediato afastamento da médica que atendeu por último o bebê”.
O governo municipal também prestou solidariedade à família de Murillo e garantiu que, “se forem constatadas falhas no atendimento ao menino, os responsáveis serão punidos”.
Inquérito instaurado na delegacia
A mãe de Murillo registrou um boletim de ocorrência na delegacia de Angra dos Reis por negligência.
Ao g1, a Polícia Civil confirmou que foi instaurando um inquérito para apurar a denúncia.
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