Censo do IBGE: conheça as seis comunidades quilombolas do Sul e Costa Verde do Rio


Dados inéditos sobre população quilombola no país foram divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE. Mais de 1,3 milhão de brasileiros se autodeclaram quilombolas. Dados do Censo de 2022 divulgados nesta quinta-feira (27) mostram que há seis comunidades quilombolas dentro do território de cinco cidades da região Sul e Costa Verde do Rio de Janeiro.
As comunidades quilombolas na região são:
Paraty – Campinho da Independência
Paraty – Cabral
Quatis – Santana
Valença – São José da Serra
Rio Claro (Lídice) – Alto da Serra do Mar
Angra dos Reis – Santa Rita do Bracuí
Estes dados são inéditos, já que é a primeira vez que o Censo incluiu em seus questionários perguntas para identificar pessoas que se autodenominam quilombolas.
Veja também:
Terra quilombola em Angra dos Reis é reconhecida pelo Incra
Historicamente, os quilombos eram espaços de liberdade e resistência onde viviam comunidades de escravos fugitivos entre os séculos XVI e XIX. Cem anos depois da abolição da escravidão, a Constituição de 1988 criou a nomenclatura “comunidades remanescentes de quilombos” — expressão que foi sendo substituída pelo termo “quilombola” ao longo dos anos.
Uma pessoa que se autodetermina quilombola tem, portanto, laços históricos e ancestrais de resistência com a comunidade e com a terra em que vive. Conheça as comunidades quilombolas na região:
Campinho da Independência – Paraty
Restaurante do quilombo do Campinho
Divulgação
Segundo o IBGE, a comunidade tem 550 pessoas quilombolas. Os moradores contam que o Campinho da Independência foi fundado por três irmãs: Antonica, Marcelina e Luiza. No século 19, as três foram escravizadas e viviam dentro da casa grande da antiga Fazenda Independência. Elas realizavam serviços como tecer, bordar e pentear os cabelos de suas sinhás.
Com o fim da escravidão, as três irmãs receberam terras e continuaram vivendo onde hoje está localizada a comunidade quilombola. Praticamente todos os moradores da comunidade são descendentes de uma dessas três mulheres.
Cabral – Paraty
Comunidade quilombola de Cabral
Reprodução
Segundo o IBGE, a comunidade de Cabral possui 176 pessoas, sendo 90 quilombolas. Ela está localizada a cerca de 10 km do centro histórico, em Paraty-Mirim. Está rodeada de outras comunidades tradicionais – de caiçaras, aldeias indígenas Guarani e o Quilombo do Campinho.
A comunidade é formada por cinco núcleos ou grupos de parentes: os Lucas, os Alves, os Angélica (também chamados de Cabral), os Rosa e os herdeiros de Benedito Evêncio. Os cinco grupos familiares descendem direta ou indiretamente de uma ancestral comum: Francisca Alvarenga, proprietária de várias terras, dentre elas a Fazenda da Caçada, onde atualmente está situado o quilombo.
De acordo com a memória da comunidade, quando Francisca ficou viúva e a fazenda entrou em decadência, ela doou as terras aos seus filhos e aos escravizados que viviam por lá.
O bairro é atravessado pelo córrego de mesmo nome, no interior da bacia do Rio dos Meros, região também chamada Sertão dos Meros. Seu território vai do Sertão do Rio dos Meros até a margem da Riio-Santos. A área reivindicada mede 512 hectares e compreende parte da extensão total do bairro.
Saiba mais:
Leia mais sobre a história de Cabral
Santana – Quatis
Quilombo de Santana, em Quatis
Divulgação/Prefeitura de Quatis
O Quilombo Santana está localizado na zona rural do distrito de Ribeirão de São Joaquim. Atualmente, segundo o IBGE, o quilombo é composto por 84 pessoas, sendo 79 quilombolas. A área total da comunidade corresponde a 723 hectares.
Parte dos moradores descende de pessoas escravizadas que receberam o título de doação de suas atuais terras. Essas terras faziam parte de uma antiga fazenda do Barão do Cajuru, local em que os ancestrais dos quilombolas de Santana, vindos de Minas Gerais ou comprados de outros mercados, eram escravizados.
Além das doações de terras, Santana conta com uma área chamada de Terra da Santa. A filha do Barão recebeu a fazenda como herança e foi responsável pelas doações aos ex-escravizados e pela criação da Terra da Santa. No local, existe uma capela em homenagem à santa.
Saiba mais:
Leia mais sobre a história de Santana
São José da Serra – Valença
Quilombo São José da Serra
Cozinha do Quilombo
O quilombo São José da Serra existe há cerca de 150 anos, o mais antigo do estado do RJ. Segundo o IBGE, 118 pessoas ainda vivem na comunidade, sendo 116 quilombolas, a maior parte descendentes de escravizados que vieram da Angola e do Congo. Suas casas são feitas de adobe, pau-a-pique e teclado de palha.
Atividades como agricultura e artesanato são meios de subsistência da comunidade e suas crenças incluem catolicismo e umbanda. A Festa do Jongo é um evento tradicional que acontece no terreiro do quilombo São José e que reúne capoeira, roda de samba e o próprio jongo. Neste evento, é servida uma feijoada e a grande atração do evento é a benção na fogueira em homenagem aos orixás.
Saiba mais:
Leia mais sobre a história de São José da Serra
Alto da Serra do Mar – Rio Claro
Benedito e Terezinha, moradores do quilombo
O Globo
Segundo o IBGE, a comunidade do Alto da Serra do Mar é formada por 47 pessoas, sendo 40 quilombolas. O território fica localizado em um vale entre as serras da Casaca e do Sinfrônio. A comunidade foi formada a partir da união das famílias Leite e Antero, que são descendentes de pessoas escravizadas nas antigas fazendas de café da região do Médio Paraíba.
As duas famílias chegaram à região na década de 1950, para exploração de carvão, utilizado nas ferrovias e siderúrgicas que se instalaram em municípios próximos.
Saiba mais:
Leia mais sobre a história do Alto da Serra do Mar
Santa Rita do Bracuí – Angra dos Reis
Capela de Santa Rita
Isabela Kassow/Diadorim Ideias
Segundo o IBGE, a comunidade abriga 613 pessoas, sendo 333 quilombolas. O terreno onde fica a comunidade fazia parte da antiga fazenda de Santa Rita do Bracuí, que pertenceu ao comendador José de Souza Breves, irmão de Joaquim Breves, conhecido como Rei do café no Brasil Império.
Em seu testamento, aberto em 1879, nove anos antes da abolição da escravatura, o comendador Breves libertou todos os seus escravizados e fez uma doação formal da propriedade do Bracuí para os que ali residiam, antepassados dos atuais moradores da comunidade. Apesar da doação, os quilombolas travam lutas contra grileiros e condomínios de luxo para se manter nas terras herdadas por direito.
Em sua zona central, há uma bela cachoeira cercada por palmeiras juçara. Ali também funciona uma associação. Decorada com grafites de Santa Rita, padroeira da comunidade, é o espaço oficial das reuniões e das festas tradicionais. A capela de Santa Rita, construída na propriedade pelo comendador, em homenagem à sua mulher Rita Clara, se mantém preservada.
Saiba mais:
Leia mais sobre a história de Santa Rita do Bracuí
Censo 2022: números nacionais
O Censo de 2022 mostra que:
O Brasil tem 1,3 milhão de pessoas que se identificam como quilombolas. Isso corresponde a 0,65% da população total do país.
Das 5.568 cidades do país, 1.696 têm moradores quilombolas (30,5%).
Apesar disso, a maioria das cidades com quilombolas tem pouquíssimas pessoas com essa autodeclaração.
Pouco mais da metade destas cidades, por exemplo, tem menos de 200 quilombolas (888 cidades).
Por outro lado, há uma grande concentração de quilombolas em poucos municípios do país.
Na prática, isso quer dizer que 110 cidades concentram 50% da população quilombola do Brasil.
A maioria dessas cidades está na Bahia (40), no Maranhão (32) e no Pará (14).
Veja o ranking das cidades que concentram a população quilombola:
Senhor do Bonfim (BA): 15.999 quilombolas
Salvador (BA): 15.897
Alcântara (MA): 15.616
Januária (MG): 15.000
Abaetetuba (PA): 14.526
Itapecuru Mirim (MA): 14.488
Baião (PA): 12.857
Campo Formoso (BA): 12.735
Feira de Santana (BA): 12.190
Vitória da Conquista (BA): 12.057
Pinheiro (MA): 10.608
Santa Rita (MA): 10.236
Cametá (PA): 10.135
Viana (MA): 9.963
Oriximiná (PA): 9.424
Penalva (MA): 9.269
São Vicente Ferrer (MA): 9.255
Macapá (AP): 8.935
São Luís (MA): 8.294
Bonito (BA): 7.967
Custódia (PE): 7.744
Bom Jesus da Lapa (BA): 7.639
Janaúba (MG): 7.606
Maraú (BA): 7.559
Salvaterra (PA): 7.437
Cachoeira (BA): 6.972
Santo Amaro (BA): 6.936
Anajatuba (MA): 6.915
Óbidos (PA): 6.815
Camamu (BA): 6.583
Cururupu (MA): 6.578
Mirinzal (MA): 6.530
Bom Conselho (PE): 6.473
Cajari (MA): 6.379
Filadélfia (BA): 6.346
São Bento (MA): 6.302
São Mateus (ES): 6.290
Moju (PA): 6.250
Matinha (MA): 6.220
Santa Helena (MA): 6.210
Brejo (MA): 6.045
Garanhuns (PE): 5.938
Icatu (MA): 5.898
Maragogipe (BA): 5.809
Berilo (MG): 5.735
Serrano do Maranhão (MA): 5.687
Paratinga (BA): 5.474
Cavalcante (GO): 5.473
Barcarena (PA): 5.438
São Francisco (MG): 5.422
Lapão (BA): 5.369
Jacobina (BA): 5.360
Penedo (AL): 5.280
São João Batista (MA): 5.185
Mulungu do Morro (BA): 5.062
Ibipeba (BA): 5.000
Mocajuba (PA): 4.936
Lauro de Freitas (BA): 4.856
América Dourada (BA): 4.727
Monção (MA): 4.720
Santa Luzia do Itanhy (SE): 4.647
Cairu (BA): 4.582
Bequimão (MA): 4.475
Chapada do Norte (MG): 4.457
Rosário (MA): 4.368
Santarém (PA): 4.363
Turiaçu (MA): 4.332
Seabra (BA): 4.311
Irará (BA): 4.269
Ibititá (BA): 4.229
Mirangaba (BA): 4.220
Alagoinhas (BA): 4.085
Riacho de Santana (BA): 4.048
Conceição da Barra (ES): 4.042
Concórdia do Pará (PA): 4.014
João Dourado (BA): 3.924
Pedro do Rosário (MA): 3.903
Bacuri (MA): 3.809
Antônio Cardoso (BA): 3.756
Acará (PA): 3.754
Ponte Nova (MG): 3.751
Presidente Juscelino (MA): 3.746
Wenceslau Guimarães (BA): 3.697
Santa Maria da Boa Vista (PE): 3.622
Axixá (MA): 3.588
Simões Filho (BA): 3.574
Jequié (BA): 3.549
Olinda Nova do Maranhão (MA): 3.528
Oeiras do Pará (PA): 3.500
Mata Roma (MA): 3.490
Gurupá (PA): 3.468
Poconé (MT): 3.445
Central do Maranhão (MA): 3.433
Manga (MG): 3.418
Valença (BA): 3.402
Mirandiba (PE): 3.363
Araçás (BA): 3.353
Laranjeiras (SE): 3.316
Virgem da Lapa (MG): 3.313
Palmas de Monte Alto (BA): 3.187
Guimarães (MA): 3.170
Barra (BA): 3.169
Cabo Frio (RJ): 3.137
Piatã (BA): 3.107
Canarana (BA): 3.106
Campos dos Goytacazes (RJ): 3.083
Boninal (BA): 3.078
São Luís Gonzaga do Maranhão (MA): 3.047
Conde (PB): 3.008
Jeremoabo (BA): 3.001
Clique aqui e siga o g1 no Instagram
VÍDEOS: as notícias que foram ao ar na TV Rio Sul

Adicionar aos favoritos o Link permanente.