A história em capas: edições da ‘The Economist’ contam trajetória de medidas econômicas de Trump


O presidente dos EUA voltou ao poder ainda mais agressivo nas políticas internacionais, representadas em matérias de capa que vão desde ‘A nova política externa da América’ até ‘A era do Caos’, segundo a publicação britânica. Veja a linha do tempo. —
Reprodução/The Economist
Desde que voltou ao poder, em janeiro deste ano, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump abalou o mundo com medidas que balançaram bolsas e mercados.
As ameaças tarifárias do presidente mergulharam o país em uma guerra comercial, que aumenta as incertezas com a economia global, em meio ao vaivém na implementação de taxas.
Desde então, o republicano já estampou ao menos oito capas da revista britânica “The Economist”, uma das publicações mais respeitadas do mundo e referência no cenário econômico e geopolítico. As edições trazem alusões e trocadilhos que desmembraram as políticas adotadas pelo republicano até agora.
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Veja algumas das principais publicações até agora.
Capas da revista ‘The Economist’ contam história de medidas econômicas de Trump
18 de janeiro

Reprodução/The Economist
A matéria de capa da revista britânica de janeiro, divulgada pouco antes de Donald Trump voltar à Casa Branca em 20 de janeiro, antecipou características de como seria o segundo mandato do republicano.
Com o título “Donald Trump vai derrubar 80 anos de política externa americana”, o texto afirma que, neste segundo mandato, Trump abandonará os valores e se concentrará em acumular e explorar o poder.
“O segundo mandato de Trump não será apenas mais perturbador do que o primeiro; também suplantará uma visão de política externa que dominou a América desde a Segunda Guerra Mundial”, defende.
Segundo a publicação, a equipe de Trump chama sua atenção para a necessidade de evitar uma terceira guerra mundial e alerta: “a China também está construindo rapidamente armas nucleares e está dominando sistematicamente tecnologias estratégicas”.
25 de janeiro

Reprodução/The Economist
No fim daquele mês, Trump estampou uma nova edição da revista britânica. A matéria de capa afirmava que o governo americano se voltou para “Projeto 1897”, uma alusão ao ex-presidente republicano William McKinley, que iniciou seu mandato naquele ano e foi citado por Trump no discurso de posse em janeiro.
McKinley ficou conhecido por aumentar tarifas protecionistas para promover a indústria dos EUA e pela expansão do imperialismo americano no Pacífico e no Caribe. Ele morreu assassinado no segundo mandato, em setembro de 1901. Segundo o texto, “o Projeto 1897 é combinado com o Projeto 2025”.
“McKinley era um imperialista, que adicionou Havaí, Guam, Filipinas e Porto Rico ao território americano. Ele também adorava tarifas, pelo menos no início”, afirmou.
Mas a revista não acreditava que as tarifas de Trump seriam tão altas.
“Antes de virar presidente, McKinley pressionou o Congresso pela aprovação de um projeto de lei para aumentá-las para 50%, um nível que excede até mesmo os planos (reconhecidamente nebulosos) de Trump”, defendeu.
Segundo a revista, McKinley também foi apoiado pelos gigantes comerciais da época: J.P. Morgan e John D. Rockefeller, que doaram cerca de US$ 8 milhões, em valores atualizados, para campanha dele.
“A esperança é que ele [Trump] cumpra suas promessas de tornar o governo dos Estados Unidos mais eficiente, sua economia mais vibrante e suas fronteiras seguras. Mas um resultado muito pior também é plausível. De qualquer forma, os freios e contrapesos restantes da América estão prestes a ser testados”, concluiu.
1° de março

Reprodução/The Economist
Em março, a revista britânica trouxe Trump representando a ‘era Don Corleone’, uma nova ordem global focada em uma geopolítica ‘mafiosa’.
A publicação disse na reportagem que o presidente americano inaugurou um novo modelo de relações entre países, em que potências exploram os menores. A união de Washington com dois de seus maiores rivais na geopolítica mundial – Rússia e Coreia do Norte – refletiu essa nova ordem mundial.
Na reportagem, a revista afirmou que Trump criou um reequilíbrio de poderes no mundo que rompe com “a era pós-1945” — em referência ao fim da Segunda Guerra Mundial — e gerou um modo de resolução de conflitos “ao estilo de Don Corleone” — o mafioso fictício que protagoniza o filme “Poderoso Chefão.
O texto ainda pontuou que o novo modelo “tornará o mundo mais perigoso, e os Estados Unidos, mais fraco e pobre”.
“À medida que Trump explora dependências de décadas, a influência dos Estados Unidos cairá rapidamente. Sentindo a traição, aliados na Europa e além se voltarão uns para os outros em busca de segurança. Se o caos se espalhar, os Estados Unidos terão que lidar com novas ameaças, mesmo que tenham menos ferramentas”.
A reportagem afirmou que o Congresso, os mercados financeiros ou os eleitores ainda podem persuadir Trump a recuar, mas países do mundo inteiro já começaram a planejar uma “era sem lei”.
5 de abril

Reprodução/The Economist
No início de abril, com políticas econômicas e internacionais mais delineadas pelo governo republicano, a revista trouxe perspectivas pessimistas para o futuro dos EUA – e otimistas para a China.
Em uma das capas, que ganhou muito destaque, o republicano é visto cortando o mapa dos EUA com uma serra. A publicação chama de “Dia da Ruína” a data do anúncio do presidente de uma série de tarifas recíprocas sobre produtos importados ao país, chamada por Donald Trump de “Dia da Libertação”, que aconteceu em 2 de abril.
A revista defendeu que “as tarifas estúpidas do presidente Trump causarão estragos econômicos”, mas disse acreditar que os danos podem ser mitigados pelo resto do mundo.
“Estimulado por seus delírios, Donald Trump anunciou a maior ruptura na política comercial dos Estados Unidos em mais de um século — e cometeu o erro econômico mais profundo, prejudicial e desnecessário da era moderna”.
A publicação argumentou que informações dadas pelo presidente republicano sobre história, economia e comércio estão erradas e defende: sua leitura da história está de cabeça para baixo.
“Como é mais provável que Trump dobre a aposta do que recue, eles correm o risco de piorar as coisas – possivelmente catastroficamente, como na década de 1930. […] Em vez disso, os governos devem se concentrar em aumentar os fluxos comerciais entre si, especialmente nos serviços que impulsionam a economia do século 21”.
A revista britânica também traz uma perspectiva positiva para a China. A segunda capa da publicação traz o famoso boné MAGA, marca da política de Trump, com a inscrição “Make China great again” (“Faça a China grande de novo”, em tradução para o português).
O texto lembrou que as exportações ainda representam cerca de 20% do PIB da China, como em 2017, o que prejudicará a economia do país — situação agravada pela tática de Pequim de redirecionar as cadeias de fabricação de empresas para países como o Vietnã, fortemente taxado por Trump.
Mas, apesar da deflação, crise imobiliária e consumo fraco, o editorial defende que a China entra na nova era MAGA mais forte do que no primeiro mandato de Trump.
“Xi [Jinping] vem se preparando para o mundo caótico de hoje desde que se tornou líder da China, em 2012. Ele pediu autossuficiência econômica e tecnológica. A China reduziu sua vulnerabilidade aos estrangulamentos americanos, como sanções e controles de exportação.”
12 de abril

Reprodução/The Economist
A última edição da revista estampou diversos rostos de Trump com o título “A era do caos”. A matéria da capa afirma que a política comercial “incoerente” do republicano causará danos duradouros.
A revista afirmou que o choque para o comércio global desencadeado por Trump é “diferente de tudo visto na história”.
“Ele substituiu as relações comerciais estáveis que os Estados Unidos passaram mais de meio século construindo com uma formulação de políticas caprichosas e arbitrárias, nas quais as decisões são publicadas nas mídias sociais e nem mesmo seus conselheiros sabem o que está por vir”.
Segundo a publicação, Trump acabou com as velhas certezas que sustentavam a economia global e introduziu níveis extraordinários de “volatilidade e confusão”.
O texto afirmou ainda que Trump reverte a confiança que o país tinha especialmente porque as tarifas desconsideram os acordos comerciais passados dos EUA, incluindo aqueles que ele assinou em seu primeiro mandato.
Ainda segundo a revista, Trump permanece em um impasse aberto com a China, do qual pode ser difícil recuar.
“Essas tarifas são altas o suficiente para devastar o comércio de bens entre as duas maiores economias do mundo, que até agora estão profundamente entrelaçadas, mesmo com as tensões aumentando entre as superpotências”.
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