
Nos últimos anos, o conceito de relacionamento passou por uma revolução silenciosa. Termos como poliamor, sologamia, relacionamentos LAT e os casais DADT vêm ganhando espaço nas conversas sociais.

Conheça o modelo de casais DADT, que está se tornando famoso em muitos relacionamentos – Foto: Canva/ND
Nesse cenário, um modelo relacional chama atenção por sua proposta curiosa: os casais DADT — sigla para Don’t Ask, Don’t Tell (“Não pergunte, não conte”, em tradução livre).
O que são casais DADT?
Diferente das relações abertas convencionais, nas quais há um certo grau de transparência sobre envolvimentos externos, o modelo DADT é baseado na omissão consensual.
Nele, uma ou ambas as pessoas do casal podem se envolver com outras — emocional ou sexualmente — desde que não haja conversas ou compartilhamento de detalhes com o parceiro principal.
Essa escolha não significa falta de diálogo, mas sim um acordo claro: o que acontece fora da relação principal não precisa (e não deve) ser contado. A prioridade é manter a estabilidade emocional e a autonomia individual, evitando gatilhos como ciúmes, inseguranças e mal-entendidos.
Como funciona na prática?

Os casais estabelecem seus próprios limites antes de aderir aos modelo de relacionamento – Foto: Canva/ND
Cada casal estabelece previamente seus próprios limites: o que é permitido, o que é proibido e quanto desejam — ou não — saber das interações externas. Para alguns, é aceitável saber se o parceiro saiu com alguém. Para outros, o silêncio absoluto é a regra.
Segundo a psicóloga e pesquisadora norte-americana Elisabeth Sheff, especialista em dinâmicas relacionais não monogâmicas, “a clareza nas regras e o respeito mútuo são pilares fundamentais nesses arranjos, independentemente de serem abertos ou fechados”.
O modelo de casais DADT, portanto, é uma tentativa de equilibrar liberdade com estabilidade.
Vantagens do modelo
Entre os principais benefícios relatados por quem adota esse tipo de relação estão:
- Maior liberdade individual: os parceiros podem explorar desejos e experiências sem o peso da prestação de contas.
- Redução de conflitos: ao evitar certos temas, o casal também evita situações potencialmente desconfortáveis.
- Preservação da relação principal: muitos casais optam pelo DADT após episódios de crise de confiança, buscando preservar o vínculo sem reabrir feridas emocionais.
Um estudo publicado em 2022 na Archives of Sexual Behavior apontou que relacionamentos consensualmente não monogâmicos, quando bem acordados, apresentam níveis de satisfação e confiança similares (ou até superiores) aos relacionamentos monogâmicos tradicionais — especialmente quando há autonomia emocional e respeito mútuo.

Ainda que funcione para muitos, os casais DADT também carrega seus desafios – Foto: Canva/ND
Desvantagens e riscos
Ainda que funcione para muitos, os casais DADT também carrega seus desafios. A ausência de informações pode gerar inseguranças, suposições e mal-entendidos.
Quando os acordos não são respeitados ou não há uma base sólida de confiança, um dos membros pode se sentir traído, mesmo que tecnicamente não haja quebra de contrato.
Além disso, a repressão de emoções ou o acúmulo de sentimentos não expressos pode comprometer a saúde emocional do casal a longo prazo.
Como alerta a terapeuta de casais Jessica Fern, autora do livro Polysecure, “a comunicação seletiva precisa ser equilibrada com uma escuta empática e segurança emocional interna”.
O que faz esse modelo dar certo?
Embora a essência do DADT seja “não contar”, é fundamental haver conversas prévias profundas. Expectativas, inseguranças, limites e desejos precisam estar claros. O silêncio externo só funciona quando o diálogo interno — entre o casal — é honesto e estruturado.
A proposta pode parecer controversa para alguns, mas sua crescente popularidade mostra que os relacionamentos contemporâneos estão cada vez mais plurais, moldados não por convenções sociais, mas pelas necessidades e acordos de cada dupla.