
O que era para ser apenas uma reforma em um campo de futebol em Viena, na Áustria, acabou se transformando em uma descoberta histórica. Arqueólogos localizaram mais de 150 esqueletos datados do século 1 d.C. no bairro de Simmering, revelando o que especialistas acreditam ter sido o cenário de uma batalha da época do Império Romano.
As ossadas foram encontradas em outubro de 2024, mas o Museu de Viena só divulgou as informações no dia 26 de março deste ano. Segundo o Departamento de Arqueologia da cidade, os corpos foram descobertos em uma vala comum durante as obras no local.
A análise inicial identificou restos de 129 pessoas, mas escavações posteriores revelaram ainda mais ossadas, elevando o número de mortos para mais de 150. Todos os esqueletos pertenciam a homens com idades entre 20 e 30 anos. A maioria media mais de 1,70m de altura e apresentava sinais de boa forma física.
Os arqueólogos também encontraram diversas lesões nos ossos, provocadas por armas como espadas, lanças, punhais e projéteis. Os ferimentos, concentrados na cabeça, no tronco e na pelve, descartam a hipótese de uma execução coletiva, de um hospital militar ou de uma epidemia. Para os especialistas, os indícios apontam para uma batalha violenta que terminou em massacre.
“Os ferimentos deixam claro: são provavelmente evidências de uma batalha — um fim catastrófico para uma ação militar”, destacou o Museu de Viena em comunicado.

Entre os objetos achados junto aos corpos estavam peças de armadura, protetores de bochecha de capacetes, pregos de sandálias militares conhecidas como “caligae” e uma adaga enferrujada, datada entre o século 1 e o início do século 2. A datação por carbono-14 reforçou a origem romana dos achados.
O modo como os corpos foram dispostos também chamou a atenção dos arqueólogos. Muitos esqueletos estavam de bruços ou de lado, amontoados de maneira desordenada. “Os membros de um corpo estavam entrelaçados com os de outro”, descreveu o museu. A falta de qualquer rito funerário sugere que o enterro foi feito às pressas, provavelmente no calor da batalha.
A descoberta é considerada excepcional. Segundo Kristina Adler-Wölfl, diretora de arqueologia de Viena, a cremação era a prática funerária predominante no Império Romano até o século 3. “Por volta do ano 100, enterros de corpos inteiros eram extremamente raros”, explicou à imprensa local.
No contexto das guerras romanas, o achado é inédito na Áustria. “Não há descobertas comparáveis de combatentes”, afirmou Michaela Binder, líder da escavação. “Na Alemanha, há grandes campos de batalha onde armas foram encontradas, mas localizar os mortos é algo único em toda a história romana”, completou.
Os arqueólogos seguem com as investigações no local. Estão previstas análises de DNA e isótopos dos esqueletos, estudos de pólen e pesquisas geofísicas na área em torno da vala para tentar reconstituir os eventos que levaram ao massacre.