
Com asas independentes e manobras impressionantes, insetos voam para trás, capturam presas no ar e percorrem milhares de quilômetros em migrações transcontinentais. Vídeo mostra libélula fazendo ‘manobras’ em pleno voo
Com movimentos precisos, as libélulas são consideradas os melhores organismos voadores do reino animal. Graças à sua capacidade de controlar as quatro asas de forma independente, elas realizam manobras que garantem eficiência na captura de presas, fuga de predadores e competição territorial.
Diferentemente da maioria dos insetos, que batem as asas em sincronia, as libélulas podem movimentar um par de asas em uma frequência diferente do outro.
De acordo com o estudo que documentou o comportamento do inseto, o mergulho rápido mostrado nas imagens acima resfria o inseto e as cambalhotas realizadas na sequência ajudam a secá-lo, sacudindo a água.
“Isso possibilita, por exemplo, manobras rápidas com mudanças de direção abruptas. Para isso, diminuem a frequência das batidas em um lado, e aumentam a frequência do outro, como o remo de um barco”, explicam os biólogos Marcos Magalhães e Diogo Vilela, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS).
Erythemis vesiculosa registrada no estado do Amazonas
starwu / iNaturalist
A velocidade de voo de uma libélula varia conforme a espécie, segundo os especialistas. Libélulas da subordem Zygoptera, por exemplo, possuem o voo mais lento e são bem menores. “Por outro lado, na subordem Anisoptera, na qual os tamanhos corporais podem chegar a 15 cm de envergadura, trabalhos mostram que algumas espécies podem atingir velocidades de até 50 km/h”, citam.
O mecanismo permite mudanças abruptas de direção e até mesmo o voo reverso, algo incomum no mundo dos insetos. Essa habilidade é essencial para a caça, já que esses predadores aéreos podem capturar presas no ar com rapidez e precisão.
Outro fator que contribui para a eficiência da caça é a presença de espinhos nas pernas das libélulas, que funcionam como uma “cesta” capaz de aprisionar os organismos capturados em pleno voo. Além disso, esses animais possuem uma visão extremamente aguçada.
Erythemis plebeja registrada no Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo, no PR
Ísis Meri Medri / iNaturalist
As habilidades de voo também desempenham um papel crucial na competição entre machos. Além disso, muitas espécies utilizam padrões coloridos nas asas para intimidar rivais e atrair parceiras. Estudos mostram que a intensidade da coloração das asas está diretamente ligada à saúde do indivíduo, o que torna essa característica um fator determinante na seleção sexual.
Essenciais no controle de populações de insetos, as libélulas se alimentam também de aranhas, alevinos e até girinos. De acordo com Magalhães, existem 6.400 espécies de libélulas no mundo, das quais 900 estão presentes no Brasil, país com a maior diversidade desses insetos.
Uma vida de viagens
As libélulas também são conhecidas por suas impressionantes jornadas migratórias. Espécies como Pantala flavescens realizam migrações transcontinentais, deslocando-se entre a Índia e a África Oriental em busca de condições favoráveis para a reprodução.
Pantala flavescens registrada em Foz do Iguaçu (PR)
B. Phalan / iNaturalist
“Essas espécies têm distribuição concentrada nos trópicos e geralmente se utilizam de ambientes como poças temporárias, lagoas para o desenvolvimento das larvas, que rapidamente emergem em adultos e continuam a sua distribuição migratória”, escrevem Magalhães e Vilela.
Curiosamente, nenhuma libélula que parte nessa viagem completa o percurso de volta; são seus descendentes que seguem o ciclo migratório, expandindo a população ao longo das gerações.
“A migração geralmente envolve nuvens de milhares de indivíduos que se dispersam utilizando correntes de ar favoráveis na maior parte do tempo, o que as ajuda a economizar energia corporal”, acrescentam os cientistas.
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