
Sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) teria espionado autoridades do governo do Paraguai por meio de uma ação hacker que invadiu computadores. A Polícia Federal investiga a legalidade da operação.

Governo brasileiro teria espionado Paraguai antes de fechar acordo com o presidente Santiago Peña – Foto: Ricardo Stucker/PR
A informação foi divulgada na manhã desta segunda-feira (31) por Aguirre Talento, colunista do UOL. Segundo a reportagem, o planejamento da ação hacker começou ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas a operação foi executada com o aval de Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Abin nomeado por Lula.
Em novembro de 2024, um servidor da Abin revelou detalhes em depoimento à Polícia Federal, que apura se a operação de espionagem teve caráter ilegal. Um segundo agente confirmou a existência da ação, sem dar detalhes.

Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Abin, teria autorizado a operação de espionagem – Foto: Lula Marques/Agência Brasil
“Luiz Fernando teria vibrado, gostou muito, que era a primeira vez que se sentia numa atividade de inteligência”, relatou o servidor à PF.
As suspeitas de irregularidades na atual gestão foram levantadas a partir da investigação de supostos desvios da Abin sob comando do ex-diretor Alexandre Ramagem no governo Bolsonaro.
Por que Abin promoveu ação hacker contra governo do Paraguai?
Através da invasão de computadores, a ação hacker tinha por objetivo extrair informações sigilosas a respeito da negociação de tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu. A questão é alvo de disputa entre Brasil e Paraguai há anos.

A energia gerada em Itaipu é dividida entre os dois países e o Paraguai vende o excedente ao Brasil – Foto: Caio Coronal/Itaipu
A operação teria ocorrido meses antes do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, fechar um novo acordo com o presidente do Paraguai, Santiago Peña, sobre os valores pagos pela energia excedente, em maio de 2024.
Na ocasião, governo brasileiro aceitou aumentar a tarifa paga ao Paraguai, mas abaixo do solicitado. O país vinha pressionando o Brasil para corrigir o valor, visto que o Tratado de Itaipu previa a renegociação em 2023. Não há confirmação, contudo, de que os dados obtidos na ação hacker teriam favorecido o Brasil.
O agente da Abin relatou à PF que os alvos da espionagem seriam “autoridades relacionadas diretamente à negociação e aos valores a serem cobrados por megawatt”. Congresso, Senado, Câmara e Presidência da República do Paraguai teriam sido invadidos.
Entenda como Abin teria espionado Congresso, Senado, Câmara e Presidência do Paraguai

Agentes da Abin teria viajado três vezes para Chile e Panamá, de onde os ataques foram disparados – Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil/ Reprodução/ ND
O depoimento ao qual o colunista Aguirre Talento teve acesso revela que a Abin teria usado o programa Cobalt Strike para invadir os dispositivos de autoridades paraguaias.
“O Cobalt Strike era uma ferramenta utilizada para o desenvolvimento de um artefato de intrusão em computadores do governo paraguaio para dados relacionados à negociação bilateral de Itaipu”, depôs o agente à PF.
“O objeto da operação era a obtenção dos valores que seriam negociados do anexo C dos valores de venda de energia produzida por Itaipu”, completou.

Ação hacker mirou no Congresso, Senado, Câmara e Presidência da República do Paraguai, revela servidor da Abin – Foto: Reprodução/Freepik
A energia gerada pela usina é dividida igualmente entre Brasil e Paraguai desde 1973, quando foi firmado o Tratado de Itaipu. O anexo C do tratado se refere às bases financeiras de comercialização da energia.
O servidor da Abin disse que a ação hacker não foi executada do Brasil. Os ataques foram disparados do Chile e do Panamá, onde agentes fizeram três viagens para montar servidores virtuais.
Para acessar informações sensíveis da negociação de Itaipu, a operação capturou senhas e dados de usuários das autoridades do Paraguai. A transcrição do interrogatório da PF, enviada sob sigilo ao STF (Supremo Tribunal Federal), cita “cinco ou seis pessoas” que não tiveram as identidades reveladas.
O ND Mais entrou em contato com a Abin, que não respondeu à solicitação até o momento desta publicação. O espaço segue aberto.