
Um casal branco da Virgínia (EUA) foi condenado coletivamente a 375 anos de prisão por forçar seus cinco filhos adotados, que são negros, a trabalharem em sua fazenda como “escravos“, enquanto eram repreendidos com insultos raciais, de acordo com o jornal New York Post.
Jeanne Kay Whitefeather recebeu 215 anos de prisão e seu marido, Donald Lantz, 160 anos. A sentença máxima, lida nesta quarta-feira (19) pela juíza Maryclair Akers, os condenou por trabalho forçado, tráfico de pessoas e abuso e negligência infantil. “E que Deus tenha misericórdia de suas almas. Porque este tribunal não terá”, afirmou a magistrada.
Cartas das crianças
Os quatro filhos mais velhos escreveram cartas emotivas para seus pais adotivos, que foram lidas em voz alta no tribunal. Nas cartas, as crianças relataram traumas que marcaram suas vidas, os deixando com problemas de confiança e pesadelos.
A filha mais velha, agora com 18 anos, disse: “Eu nunca vou entender como você consegue dormir à noite. Quero que você saiba que você é um monstro.” No mês passado, a jovem processou o casal, acusando-os de abuso físico e emocional severo, além de negligência, o que lhe causou “cicatrizes permanentes”.
O casal adotou os cinco irmãos em Minnesota, estado da região centro-oeste dos EUA, e depois se mudou para uma fazenda no estado de Washington em 2018, antes de se mudar para Sissonville, Virgínia Ocidental, em maio de 2023, quando as crianças tinham entre 5 e 16 anos.
Descoberta dos crimes

Whitefeather e Lantz foram presos meses depois, em outubro de 2023, depois que uma ligação para um órgão americano, equivalente ao Conselho Tutelar no Brasil, levou à descoberta de dois adolescentes — a filha mais velha e seu irmão adolescente — trancados em um galpão na casa do casal.
Quando a polícia arrombou a porta do celeiro com um pé de cabra, eles encontraram um banheiro químico, mas nenhuma luz ou água corrente. Um dos adolescentes disse à polícia que eles estavam trancados no celeiro e não eram alimentados há 12 horas.
Os irmãos disseram que os pais adotivos os forçaram a dormir no chão de concreto sem colchões. Ambos usavam roupas sujas e tinham odor corporal, observou a polícia, de acordo com o processo obtido pelo NY Post. As outras crianças foram encontradas na casa principal. Todos os cinco foram entregues aos Serviços de Proteção à Criança após as prisões do casal.
Durante o julgamento, os vizinhos testemunharam que nunca viram as crianças brincando, mas sim realizando “trabalho duro” diversas vezes. Quando o pai adotivo percebeu a curiosidade dos vizinhos, ele passou a manter as crianças dentro de casa, afirmaram os promotores.
A filha mais velha testemunhou que a maior parte do trabalho ao ar livre acontecia na residência da família em Washington, onde alguns dos irmãos eram forçados a cavar usando apenas as mãos, explica o NY Post.
Ela também disse que as crianças eram abusadas verbalmente “o tempo todo” e que Whitefeather usava linguagem racista. Os irmãos eram alimentados principalmente com sanduíches de manteiga de amendoim em horários determinados, e algumas crianças eram forçadas a ficar de pé em seus quartos por horas com as mãos na cabeça.
Os advogados de defesa do casal argumentaram que eles ficaram sobrecarregados após acolher as crianças, que já sofriam abusos dos pais biológicos. Um deles afirmou que o homem e a mulher eram de fazendeiros e realizavam tarefas agrícolas, destacando que não se tratava de questões raciais ou de trabalho forçado.