Arnaldo Antunes se revigora com a sonoridade nervosa de ‘Novo mundo’, álbum com produção musical de Pupillo


Artista transita entre a inquietude do rock e a delicadeza das canções de amor em disco que traz Marisa Monte, David Byrne, Ana Frango Elétrico e Vandal. Arnaldo Antunes apresenta parcerias com David Byrne e Marisa Monte no álbum ‘Novo mundo’, 20º título da discografia solo do artista
Leo Aversa com concepção visual de Batman Zavareze / Divulgação
Capa do álbum ‘Novo mundo’, de Arnaldo Antunes
Leo Aversa sob direção artística de Batman Zavareze
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Novo mundo
Artista: Arnaldo Antunes
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ Artista multimídia, Arnaldo Antunes nos pega pela palavra escrita, poética e concreta. Mas, quando entra no campo da música, esse craque da poesia precisa que os versos se movam a partir dos sons. No último álbum de músicas inéditas do artista, O real resiste (2020), o cantor e compositor paulistano recorreu a um formato musical mais desnudo que atenuou os sentidos do cancioneiro do disco.
Paradoxalmente, tal formato mais enxuto surtiu efeito no show e nos álbuns feitos na sequência por Arnaldo com Vitor Araújo, pianista heterodoxo. A parceria entre cantor e pianista foi pautada pela excelência.
Novo mundo – 20º título da discografia solo do titã, posto ontem em rotação pelo selo Risco com capa assinada por Batman Zavareze – revigora a música de Arnaldo Antunes com sonoridade nervosa orquestrada por Pupillo Oliveira, produtor musical do álbum.
Pupillo também está presente como instrumentista (bateria, percussão, programações e efeitos) ao lado de músicos do naipe de Kiko Dinucci (guitarra, violão e programações), Betão Aguiar (baixo) e o mencionado Vitor Araújo (piano e sintetizador). A sonoridade sustenta repertório que, nas mãos de outro produtor, talvez evidenciasse eventual irregularidade.
Antenado com os tempos atuais, o álbum Novo mundo capta as angústias, ansiedades, ignorâncias, ódios e urgências de um universo em desencanto e em decomposição de valores, assunto da excelente música-título Novo mundo (Arnaldo Antunes), gravada com o rapper baiano Vandal, cujo discurso em Mundanoh é inserido na faixa, grande destaque da safra autoral composta por 12 músicas inéditas.
Na sequência, O amor é a droga mais forte (Arnaldo Antunes) prega o afeto como o grande antídoto para neutralizar os males desse novo mundo.
Arnaldo Antunes se eleva em disco gravado com músicos como o guitarrista Kiko Dinucci
Leo Aversa com concepção visual de Batman Zavareze / Divulgação
As duas músicas bilíngues compostas e gravadas em parceria com David Byrne, cabeça pensante do grupo norte-americano Talking Heads – Body corpo (sustentada em base mais percussiva) e o incisivo indie rock Não dá para ficar parado aí na porta, ambas cantadas em português e em inglês – se mostram antenadas com o espírito do disco enquanto Pra não falar mal (Arnaldo Antunes), faixa cantada com Ana Frango Elétrico, se afina com a estética pop vintage do álbum Iê Iê Iê (2009), um dos títulos mais memoráveis da discografia solo do artista.
Já Acordarei (Arnaldo Antunes) acende um flash de esperança em canção de amor que ecoa a delicadeza do repertório do trio Tribalistas. Adornada com notas salpicadas pelo piano de Vitor Araújo, a canção é conduzida na levada do violão de Kiko Dinucci.
Pra brincar (Arnaldo Antunes) também evolui nesse tempo de delicadeza que ainda reverbera em Sou só, canção de suaves tons poéticos composta e cantada por Arnaldo Antunes com Marisa Monte. Sou só acende luz no universo do disco com versos como “Eu sou o fogo ancestral / O avesso da escuridão / O corpo celestial / Boiando na imensidão”.
Em outra esfera, Viu, mãe? externa gratidão filial pelo amor materno com afeto que ecoa a gentileza do gigante Erasmo Carlos (1941 – 2022), parceiro de Arnaldo na canção. Rock que poderia figurar em discos da fase áurea do grupo Titãs, Tire o seu passado da frente se impõe de cara por versos provocativos.
“Não é porque foi oprimido que vai virar opressor / Não é porque foi abusado que vai ser abusador / Não é porque foi detido que vai virar ditador / Não é porque foi desmamado que vai ter medo de amor”, dispara Arnaldo, que emite sons guturais no estilo homem primata ao fim da faixa.
Com letra extensa, a faixa final do álbum, Tanta pressa pra quê? – parceria de Arnaldo com Marcia Xavier, também coautora de É primeiro de janeiro – cai no suingue do samba-rock para criticar e tentar frear o ritmo insano do mundo (“Tento segurar esse ponteiro / Que gira ligeiro pra me derrubar”).
Esse acelerado mundo é encarado por Arnaldo Antunes com o vigor das palavras e da sonoridade inquieta do produtor Pupillo, hábil na mistura de sons acústicos, elétricos e eletrônicos. Mesmo sem sustentar a virulência da música-título ao longo das 12 faixas, o disco avança com certa coesão. Aos 64 anos, Arnaldo Antunes resiste com a força da palavra.
Arnaldo Antunes canta parceria póstuma com Erasmo Carlos (1941 – 2022) no álbum ‘ Novo mundo’
Leo Aversa com concepção visual de Batman Zavareze / Divulgação
Arnaldo Antunes apresenta 12 músicas inéditas no repertório inteiramente autoral do álbum ‘Novo mundo’
Leo Aversa com concepção visual de Batman Zavareze / Divulgação
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