
Conhecido como mexilhão-verde, o molusco bivalve é considerado pelos especialistas como uma ameaça para as espécies nativas do país, uma vez que cria um ambiente de competição. Mexilhão-verde foi encontrado por biólogo e observador de aves em Peruíbe (SP)
Fábio Barata
Um mexilhão-verde (Perna viridis), espécie exótica nativa da região oceânica do Indo-Pacífico, foi fotografado em Peruíbe, no litoral de São Paulo. Conforme apurado pelo g1, trata-se de uma praga asiática que vem se espalhando pelas praias da região e preocupa biólogos devido ao poder de competição com espécies nativas.
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O animal foi flagrado pelo biólogo e observador de aves Fábio Barata, na praia do Guaraú, em Peruíbe, na última quinta-feira (6). Enquanto ele e a família exploravam os bivalves na areia, acharam um mexilhão de coloração esverdeada que chamou a atenção.
“Um encontro que me deixou preocupado com o impacto dessa espécie em nossa fauna marinha. Fica o alerta para a necessidade de monitoramento e controle dessas espécies exóticas, a fim de preservar a biodiversidade do nosso litoral”, escreveu o biólogo, por meio das redes sociais.
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Como chegou ao litoral de SP?
O biólogo marinho Eric Comin explicou ao g1 que o mexilhão-verde é nativo da região oceânica do Indo-Pacífico. Com facilidade de reprodução, os óvulos fertilizados se transformam em larvas que são levadas pela maré e, em seguida, viram duas conchas envolvendo o corpo do animal.
Ao longo dos anos, a espécie foi introduzida em várias partes do mundo incluindo China, Japão, Polinésia, Caribe, Jamaica e, também, o Brasil. Segundo Comin, os primeiros registros de invasão no país foram em 2018, no Rio de Janeiro.
Em relação a São Paulo, acredita-se que a espécie tenha sido introduzida no estado pelo Porto de Santos em função da água de lastro de embarcações. Nessa estratégia, coleta-se água do mar para dar estabilidade ao navio que, posteriormente, é descartada. Uma consequência, no entanto, é o eventual transporte de espécies invasoras de uma região a outra do globo.
Além de se dispersar com a ajuda dos navios, o mexilhão-verde se fixa em substratos como rochas, madeira e conchas de outros moluscos. Devido à fácil adaptação e preferência pela água quente, a espécie também pode se espalhar a partir do lixo jogado no mar brasileiro.
“É uma espécie que acaba sendo transportada facilmente em resíduos de navios como larvas, em água de lastro principalmente”, disse Comin. “Eles [também] são atraídos para se estabelecer em outros mexilhões, onde podem formar um ambiente bem extenso criando um habitat complexo”.
Ameaça à biodiversidade
Animal foi encontrado na Praia do Guaraú, em Peruíbe (SP)
Edilson Almeida/Prefeitura de Peruíbe
Segundo Comin, o animal é característico em áreas rasas, mas também sobrevive em ambientes com mudanças bruscas de temperatura e salinidade. Com a introdução da espécie exótica onde ela não deveria estar, porém, cria-se um ambiente de competitividade.
“Esse crescimento de forma acelerada vai permitir que essa espécie se prolifere, se estabeleça de uma forma muito rápida, competindo diretamente com as espécies de mexilhões da nossa região. E aí, também, elas vão competir por espaço, por alimentação”, disse.
Ele destacou que o mexilhão-verde tem uma taxa de crescimento rápida em comparação às espécies nativas e que os predadores da região não o reconhecem. Isso causa preocupação, já que a espécie invasora tem a chance de dominar todas as áreas da costa brasileira.
Veja o que contribui para a dispersão da espécie:
🌊 Resíduos descartados indevidamente no mar;
🚢 Transporte marítimo;
🪵Objetos que caem no mar, como garrafas plásticas, madeira e metal.
O biólogo ressaltou que a invasão da espécie exótica no Brasil já tomou toda a costa de São Paulo. Isso cria um círculo global de transferência de espécies e, atualmente, não há medidas de controle rigorosas para impedir invasões significativas.
Ascensão de espécies invasoras
Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo)
Yan Lima
Além do mexilhão, o percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo), uma espécie originária da China, tem chamado a atenção de especialistas devido à recente aparição em cidades do litoral paulista, como Santos, São Vicente e Guarujá. Em janeiro, o inseto, que é considerado uma praga na Ásia, já foi registrado 22 vezes na Baixada Santista, com maior incidência em Santos.
Embora ainda não tenha causado danos significativos no Brasil, o percevejo é visto com preocupação por pesquisadores. Caso a espécie continue a se expandir, ela pode se tornar invasora, comprometendo o equilíbrio ambiental e trazendo prejuízos econômicos, no país e América do Sul.
“Há risco, caso não haja um monitoramento adequado”, alertou Ricardo Brugnera, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O último registro no sistema iNaturalist foi feito em outubro de 2024, no Parque São Vicente.
Riscos e Preocupações:
Ambiental e econômico: Caso a espécie se espalhe, pode se tornar invasora e causar danos ambientais e econômicos em nível nacional e até na América do Sul.
Hábito alimentar: O inseto é polífago, ou seja, se alimenta de diversos tipos de plantas.
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