Não deu nem uma semana em do show dos estelares Marcos Valle e Trio Azymuth no Floripa Jazz e recebemos um outro presente sem termos pedido nada, mas que seremos gratos daqui para frente. “Matadeiro”, sexto álbum da banda Skrotes, lançado nas plataformas na sexta-feira precisa ser lembrado e propagado como uma dessas pérolas do jazz instrumental à brasileira, que os mestres citados no início do texto irradiaram pelo universo.
O trio Ilhéu crava os 15 anos de trajetória com o maior trabalho entre a sua discografia – de outros cinco robustos trabalhos. Ouça o quanto antes e assista ao vivo o show de lançamento de “Matadeiro”, domingo (16), na Ponte Hercílio Luz, às quatro da tarde. Os Skrotes são os convidados do projeto Desterro Autoral e a entrada é livre.
Ouça “Matadeiro”, novo álbum dos Skrotes
Mas sobre o novo trabalho. Ele sucede o quinto álbum, “Tropical Mojo”, após um intervalo de sete anos. É um disco que traz a excelência da banda em desconstruir estilos e estéticas, fundir gêneros e temas cinematográficos, porém vibrando em uma outra frequência. São nove canções para se ouvir obcecadamente e que vão te levar a espaços e momentos diversos.
A psicodelia cintila em todas as músicas grudada ao groove particular dos Skrotes. A partir dali catalisam tudo ao redor: choro, samba, ska, bolero, baião, afrobeat, temas de filmes e da música pop – referências tão sutis que surgem como “easter eggs” e chegam a divertir. E tem a irreverência, que permeia as canções e titulam as músicas e abro aqui as minhas preferidas: “Piracema Groove”, “Tema da Onça”, ‘Cão Calvário”, “Intervalo da Combustão” e “Chorão da Augusta”.
Mas eu recomendo ouvir na sequência da primeira à última para perceber como tudo encaixa e “bate”. Não tem o peso e as distorções dos trabalhos atrás, mas refina tudo e promove uma sintonia fina e espacial onde Chico Abreu (baixo), Igor de Patta (piano, teclados e synths) e Guilherme Ledoux (bateria) inflamam. É de pirar.
“Matadeiro” é obviamente uma reverência à praia do Sul da Ilha de Santa Catarina, mas poderia se chamar “Armação”, onde foi gravado o álbum, no Oiué Studio – e isso fez um grande diferença no trabalho. O refúgio do produtor Paulo Costa Franco é conhecido pelas alquimias analógicas que promove. E os Skrotes emergiram dali com um disco sensorial, presente – e citando o colega e jornalista Daniela Silva, do Portal Rifferama, tem ambiência, “como se você estivesse ao lado da banda”.
A arte da capa é do artista Henrique Neumann, parceiro da banda de longa data e responsável pela animação do premiado videoclipe de “Adogás” (álbum “Nessun Dorma”, 2014).
Realmente, esse álbum traz os Skrotes em sua definitiva dos palcos. Recomendo fazer como eu, ouvi-lo recorrentemente e ir se surpreendendo com uma série de coisas novas que vão surgir e te levar para outra dimensão.