Neste Dia dos Namorados, o g1 te conta a história de Amanda Renata e Adivaldo Govea, que ganhou um presente mais do que especial: a chance de continuar vivo. Amanda e Adivaldo após o transplante
Reprodução/Arquivo pessoal
Roupa, sapato, produto de beleza, viagem…são várias as opções para presentear no Dia dos Namorados. Mas Adivaldo Govea Lima, de 52 anos, ganhou da esposa Amanda Renata Guedes de Sá Lima, de 42 anos, um presente antecipado que salvou sua vida: um rim. O marinheiro de Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro, garante que “não tem prova de amor maior do que essa”.
Adivaldo passou por um transplante de rim intervivos, quando o órgão de uma pessoa sadia é retirado e doado a um paciente com doença renal crônica, no dia 24 de maio. A doadora foi a esposa, que não hesitou em ajudar o marido.
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“Eu não pensei muito. Eu só pensava em doar a vida pra ele, porque eu sabia que ele não ia aguentar passar por um procedimento desse de hemodiálise. É meu marido e, se eu pudesse, eu doaria coração, qualquer outro órgão, até minha vida”, disse Amanda.
O procedimento foi realizado no centro de nefrologia de um hospital particular de Volta Redonda (RJ), cidade localizada a cerca de 95 km de distância de Angra dos Reis.
Porém, entre a descoberta da doença renal crônica e o transplante, muita coisa aconteceu. Neste 12 de junho, Dia dos Namorados, o g1 te conta como foi o processo que salvou a vida de Adivaldo e como será a comemoração do casal nesta data.
Amanda e Adivaldo
Reprodução/Arquivo pessoal
Descoberta da doença renal crônica
Adivaldo é hipertenso e diabético. A desconfiança de que os rins não estavam funcionado bem surgiu entre o fim de 2019 e início de 2020, durante um check-up anual com o seu cardiologista.
“Nessa revisão, constou alteração de que estavam altas a ureia e creatinina, um pouquinho, nem tanto, na época. Aí, o meu cardiologista disse: ‘olha, você tem que procurar uma nefrologista’. Aí, eu fui e procurei. Ela constatou que eu estava com uma doença renal crônica”, contou Adivaldo.
O marinheiro relembra que o diagnóstico da médica foi de que os dois rins funcionavam com apenas 50% da capacidade, mas que, através de uma dieta, essa porcentagem não trazia riscos à vida.
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No entanto, no final de 2023, novos exames constataram que os rins de Adivaldo estavam perdendo a capacidade de filtragem das substâncias indesejáveis do sangue.
“Eu já estava acompanhando que meus rins estavam perdendo a porcentagem [de funcionamento]. ‘Ah, tá 30, tá 25, tá 20 [por cento de funcionamento]. Aí, ela [nefrologista] chegou a constatar de que ele estava 15%. Aí, ela mandou eu colocar um procedimento na veia para, pensar futuramente, fazer hemodiálise”, relembrou.
Transplante como solução
Logo após a consulta, Adivaldo ligou para a esposa e repassou o relato da médica. Não satisfeita com a possível solução para o problema do marido, Amanda resolveu buscar um tratamento que não fosse tão invasivo como a hemodiálise.
“Ela [Amanda] falou: ‘não aceito isso para o meu marido’. Ela foi no Google e pesquisou: ‘melhor nefrologista de Volta Redonda. Caiu em um endereço que a gente nunca tinha ouvido falar. Aí, ela disse: ‘ah, eu marquei uma consulta”, contou Adivaldo.
Amanda conseguiu agendar a consulta para quatro dias depois. O casal saiu de Angra dos Reis e foi a Volta Redonda para, inicialmente, tirar dúvidas sobre o que poderia ser feito no caso de Adivaldo.
A nefrologista analisou os exames do marinheiro e constatou que os rins funcionavam com 12% da capacidade. Na época, a hemodiálise ainda era dispensável, porque ele estava clinicamente bem, mas era certo de que esse momento chegaria.
“Ela me disse: ‘realmente, seus rins têm um buraco. Você tá perdendo muita proteína. Ao invés de você segurar o que você precisa, você está jogando fora”, relembrou Adivaldo.
Como não queria que o marido fizesse hemodiálise, Amanda questionou a médica sobre transplante. Foi quando recebeu a informação de que existem duas formas de uma doação de órgãos ser feita: retirando de uma pessoa já falecida (a mais tradicional e mais concorrida, devido a uma fila) ou a em vida (entenda mais abaixo).
Adivaldo e Amanda foram encaminhados a um outro médico para que fosse explicado o protocolo de doação do órgão em vida. Após o especialista indicar as obrigatoriedades, a mulher o questionou sobre a possibilidade dela ser a doadora.
“A motivação total foi o desespero dele, que eu vi que ele estava desesperado, e pensar nos meus filhos. ‘Gente, se meu marido morrer, como vai ser? Como vai ser pra mim? Como vai ser pros meus filhos?’ A gente pensa muito mais nos filhos até do que na gente, né? Porque a gente acha que a gente suporta a dor, mas você ver quem você ama sofrer não é legal. E você não poder fazer nada pra cessar aquele sofrimento”, disse Amanda.
Ela fez o teste e, em 15 dias, saiu o resultado. A descoberta sobre a compatibilidade foi através de uma uma ligação feita pelo médico.
“Eu pensava que o médico ia marcar uma consulta, alguma coisa assim. Graças a Deus, ele me mandou uma mensagem que foi bem mais rápida. Eu estava trabalhando, e ele me ligou, mas eu não atendia, porque eu estava atendendo. Aí, por fim, eu atendi, porque eu tinha acabado de atender. Aí, a primeira palavra foi: ‘você é compatível’. Eu desliguei na cara dele e comecei a chorar”, relembrou ela.
Adivaldo também ficou sabendo pelo celular, quando estava indo trabalhar. Bastante emocionado, quando questionado sobre a reação da esposa, ele disse que não “esperava outra coisa dela”.
A data do resultado do teste de compatibilidade foi a mesma do aniversário da filha, de 22 anos. “Foi no dia 28 de março que nós tivemos essa resposta. E, assim, nunca mais será esquecido esse dia, pra todos nós”, afirmou Amanda.
A cirurgia
Amanda e Adivaldo antes do transplante
Reprodução/Arquivo pessoal
Na última consulta pré-operatória, o funcionamento dos rins de Adivaldo caiu para 9% da capacidade. Já seguindo uma dieta para a cirurgia, o marinheiro se preparou para receber o órgão da esposa.
Pouco mais de 2 meses depois do resultado do teste de compatibilidade, chegou a hora do momento mais aguardado pelo casal. Amanda e Adivaldo entraram juntos no hospital, de mãos dadas, e confiantes de que tudo daria certo.
“Não demorou muito. Acho que foi milagre de Deus. Deu tudo certo! Exames deram tudo certo”, relembrou Adivaldo.
“A cirurgia foi um sucesso e a nossa recuperação está sendo muito boa. É uma recuperação dolorosa, sim, mas mesmo assim, muito boa. Graças a Deus, tem pessoas que estão ajudando a gente, tem uma boa rede de apoio, e estamos indo. Se Deus quiser, daqui para frente é só vitória”, falou Amanda.
O médico Pedro Túlio Rocha, responsável pelo programa de transplantes renais do hospital e um dos envolvidos no procedimento de Adivaldo, afirmou que ele estava com uma piora na função renal progressiva e irreversível. Se não fosse o transplante, em no máximo 1 ano, estaria necessitando de diálise.
“Uma vez identificada essa característica da doença progressiva e irreversível e já em um estado avançado, é possível, sim, oferecer o transplante renal antes do início da terapia dialítica”, explicou o médico.
Com menos de 1 mês de transplante, os exames de Adivaldo já melhoraram bastante. Se antes a ureia e creatinina estavam bem acima do normal, hoje, estão dentro do ideal.
Amanda e Adivaldo após o transplante
Reprodução/Arquivo pessoal
Transplante renal intervivos
Esse tipo de procedimento realizado pelo Adivaldo não é recente. Segundo Pedro Túlio Rocha, a doação intervivos foi a primeira modalidade de transplante renal realizada no mundo, em 1954, nos Estados Unidos.
Embora seja feito em todo mundo, no Brasil, menos de 20% do total de transplantes realizados são intervivos. A maioria é feita com doador falecido.
“Mas a opção do transplante renal com doador vivo não pode ser esquecida, já que ela oferece excelentes resultados. E, também, ao longo desses 70 anos, a gente tem a certeza de que respeitar uma adequada avaliação pré-operatória é uma opção também bastante segura para o doador”, ressaltou o médico.
Diferente do passado, quando era mais raro obter sucesso com transplante de doador que não tivesse um vínculo consanguíneo direto, atualmente, o cenário é totalmente diferente.
“Embora com a doação entre esposa e esposo, companheiros, não haja um vínculo consanguíneo direto, hoje, com os imunossupressores que temos disponíveis, que são os remédios para evitar a rejeição, esse transplante também apresenta excelentes resultados”, finalizou Pedro.
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Amanda acredita que esse tipo de transplante deveria ser mais divulgado. Para ela, muitas pessoas não fazem esse tipo de doação por medo e, principalmente, falta de informação.
“Isso tinha que ser mais falado, porque é tão simples. Eu, antes de a gente fazer essa doação, dessa consulta, eu achava que era algo muito difícil, muito surreal. E foi tão simples, foi tudo tão rápido. E a gente, às vezes, deixa de dar vida. Porque não é você doar um órgão, é você doar a vida, é você doar a qualidade de vida, é você doar a saúde. E muitas pessoas não fazem isso por falta de informação, por medo. Não precisa ter medo”, disse ela.
“Pra mim, eu nasci de novo. Porque eu não queria hemodiálise pra minha vida. E eu acho que muita gente não esta vivendo o que eu vivo hoje por causa de conhecimento, da pessoa se informar, porque não é tão difícil, difícil é arrumar um doador”, afirmou Adivaldo.
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Dia dos Namorados
Amanda e Adivaldo estão juntos há 25 anos, 23 deles são de casados. Os dois se conheceram no Frade, bairro de Angra dos Reis em que sempre moraram, através de amigos em comum.
“Acabou criando uma amizade. E dessa amizade fomos conversando. Foram três meses de conversa para, depois, a gente começar a namorar. E namoramos durante dois anos para construir tudo, para poder casar. E aí casamos no dia 10 de março. E estamos até hoje”, contou Amanda.
Para ela, o segredo para ter um casamento sólido é um bom namoro.
Amanda e Adivaldo
Reprodução/Arquivo pessoal
“A gente tem briga como todos os casais, mas o diálogo eu acho que está acima de tudo, e nós sempre aprendemos a conversar um com o outro. Para um casal, ser feliz é importante. Pode ser namorado ou casado, tem que ter companheirismo, respeito, fidelidade, amizade acima de tudo, se não tiver isso tudo. E o amor, né? Se não tiver, não vai dar certo”, afirmou.
Neste Dia dos Namorados, a maior celebração de Adivaldo será a vida nova. Mais de que ganhar presentes, o marinheiro carrega com ele o símbolo da dedicação e cuidado de quem escolheu para amar.
“Tirar uma coisa sua e doar para o outro viver é muito difícil. Mas eu nunca duvidei, porque a gente sabe quem está do nosso lado. Se ela precisasse de mim, eu também doaria. E eu disse pra ela que se ela precisasse do meu rim de volta eu devolvo”, contou Adivaldo, bastante emocionado.
Neste ano, nada de jantar a sós em um restaurante romântico. A comemoração será em casa, junto da família. Mas nada disso tira a alegria dos eternos namorados.
“Pra mim, não tem presente melhor. Teremos muitos outros Dia dos Namorados para estar comemorando de outra forma. Mas é o melhor presente, é o melhor Dia dos Namorados”, disse Amanda.
“O Dia dos Namorados para nós vai ser o meu primeiro com a minha nova vida. E eu espero que venham muitos e muitos anos. Eu disse pra ela que agora não tem jeito não…que a gente vai ter que morrer velhinhos, porque já éramos um só quando casamos, agora então”, afirmou Adivaldo.
Amanda e Adivaldo
Reprodução/Arquivo pessoal
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