
Menos de 1 kg da trufa branca de Alba, a mais valiosa do mundo, chegou a ser leiloado na Itália por cerca de R$ 600 mil. O alto custo é explicado por diversos motivos, em especial, por serem raras e difíceis de encontrar.
Por que as trufas são tão caras?
Trufas são fungos comestíveis com sabor característico que costumam ser usados em pedaços ou incorporados a algum tempero, como o azeite, em pratos da alta gastronomia.
Só que, ao contrário das trufas de chocolate, é improvável comprar o fungo por menos de R$ 8 mil o quilo — preço da Sapucay, a 1° trufa encontrada no Brasil.
Em 2021, por exemplo, 830 gramas da trufa branca de Alba, a mais valiosa do mundo, chegou a ser leiloado na Itália por 103 mil euros (cerca de R$ 630 mil na cotação de 1 de novembro), segundo a Reuters.
Algumas trufas têm formato pequeno, redondo e escuro, lembrando bombons de chocolate.
Reprodução/Tartuferia San Paolo
Mas por que as trufas são tão caras?
Porque existem poucas trufas disponíveis no mercado, o que está ligado a quatro motivos:
1. Elas exigem condições específicas para crescer
Clima temperado, solo pouco ácido e a presença de árvores como carvalho, nogueira-pecã e aveleira são algumas das suas exigências.
“Em média, elas levam de 5 a 6 anos desde o ‘nascimento’ até a colheita”, explica Marcelo Sulzbacher, biólogo especializado em fungos comestíveis e um dos pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria que descobriram a 1° trufa brasileira (veja mais abaixo).
Ele ressalta que as trufas só estão disponíveis em determinados períodos do ano, que variam conforme a espécie.
2. Elas são difíceis de encontrar
Nero, cachorro da raça lagotto romagnolo, que caça trufas.
Reprodução/Instagram
Diferente dos cogumelos, como shitake, shimeji e portobello, que se desenvolvem acima da superfície, as trufas crescem “escondidas” embaixo da terra, em associação com as raízes das suas árvores preferidas.
É justamente por serem fungos subterrâneos e terem menos trocas com o ambiente que as trufas retêm mais sabor e aroma que os cogumelos, de acordo com o Carlos Claro, dono da Tartuferia San Paolo, restaurante especializado em trufas.
Mas essa característica dificulta o trabalho dos trufeiros, que caçam esses fungos pela floresta.
Originalmente, esse papel era desempenhado por porcos; hoje, são os cachorros que cumprem essa função, em especial, os da raça lagotto romagnolo — como o Nero, mascote de Carlos, treinado para caçar esses “diamantes da terra” (confira na foto acima).
3. Elas estragam rápido
As trufas são altamente perecíveis e duram até, no máximo, 15 dias na geladeira, segundo Carlos.
“Isso faz com que o seu consumo seja ainda mais limitado e, consequentemente, caro”, explica o empresário.
4. Elas não costumam crescer no Brasil
Tradicionalmente, devido às suas exigências climáticas, como o clima temperado, as trufas são encontradas em países da Europa como Itália, Espanha e França.
Apesar disso, o seu cultivo tem se espalhado por outros países. Em 2016, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria encontrou as primeiras trufas brasileiras em uma plantação de nogueira-pecã, em Cachoeira do Sul (RS). A espécie é conhecia como Sapucay.
Mas a quantidade de trufas brasileiras ainda é muito baixa quando compara à produção europeia, o que faz com que quem queira comercializar trufas no Brasil precise importá-las do outro lado do Oceano Atlântico.
É um processo caro e arriscado, o que reflete no preço do produto no Brasil, explica Carlos, que importa cerca de 4 quilos de trufas de diferentes tipos mensalmente da Itália para o Brasil.
Itália
“Um desses documentos é um laudo que comprova que as trufas foram produzidas em um local regularizado”, descreve Carlos.
Além disso, Carlos tem que mostrar o comprovante de pagamento das taxas de importação exigidas à Receita Federal — que variam conforme a quantidade.
No total, contando o transporte aéreo e as taxas de importação, o gasto médio para trazer trufas da Europa para o Brasil é de R$ 6 mil, segundo o empresário.
Isso, de acordo ele, reflete em um custo médio de R$ 18 mil por quilo de trufa que é vendida no restaurante.
Isso porque são usadas quantidades pequenas de trufas por refeição, no máximo, de 5 a 7 gramas, segundo o empresário, o que pode significar, respectivamente, R$ 90 e R$126 por prato.
O preço varia ainda conforme o tipo de trufa que é oferecido.
“Por exemplo, o prato ‘ovo perfeito’ (um ovo cozido com gema mole, servido com trufas laminadas) sai por cerca de R$ 70 se for com trufa de verão; se for a branca, o valor pode subir para R$ 250”, descreve o empresário.
Prato “Ovo perfeito” feito com ovo cozido e fatias de trufas.
Reprodução/ Tartuferia San Paolo
Apesar das dificuldades, Carlos afirma que comercializar trufas no Brasil é uma das suas paixões.
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