
A jovem Tâmara Alencar, de 29 anos, estudou no Campus Petrolina Zona Rural do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE). Tâmara Alencar, de 29 anos, é a primeira pessoa do Brasil, nascida com Síndrome de Down, a concluir o curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia
Arquivo pessoal
Nesta sexta-feira (21) é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down, também conhecida como trissomia do cromossomo 21. Neste ano, a estudante Tâmara Alencar, de 29 anos, entrou para a história por ser a primeira pessoa do Brasil, nascida com essa condição genética, a concluir o curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia. Segundo o Ministério da Saúde, uma em cada 700 pessoas que nascem no Brasil tem essa síndrome.
A jovem estudou no Campus Petrolina Zona Rural do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE). O início da jornada acadêmica foi em 2020, após ser aprovada em primeiro lugar no Sisu, nas cotas para pessoas com deficiência. A defesa do Trabalho de Conclusão de Curso ocorreu no último dia 18 de fevereiro.
Aprovada, Tâmara vive a expectativa para a colação de grau, que será realizada ainda neste semestre, para receber o tão sonhado diploma de tecnóloga em Viticultura e Enologia. “Só tenho a agradecer mesmo, uma felicidade”, disse a estudante
Tâmara Alencar durante as aulas no IFSertãoPE
Arquivo pessoal
Como a maioria dos estudantes, a trajetória de Tâmara até a conclusão do curso não foi simples. A pandemia de Covid-19, a necessidade de adaptação dos conteúdos e atividades, tanto teóricas como práticas, e a distância de sua casa, no município de Juazeiro, no Norte da Bahia, até o campus, localizado na zona rural de Petrolina, foram alguns dos desafios enfrentados e vencidos pela jovem.
“Sempre foi um sonho dela cursar uma faculdade e eu confesso que achava quase impossível, mas nunca duvidei da sua fé e da sua capacidade”, conta Maria Crisley Alencar, mãe de Tâmara. “Sempre dei liberdade de escolhas, desde pequenina”, acrescenta.
Além da dedicação de Tâmara e do apoio da família não foram os únicos pontos de destaque para o sucesso da jovem no curso. Os professores precisaram de formação e orientação, para conseguir adaptar as atividades e garantir que a jovem tivesse acesso pleno aos conteúdos previstos.
Para isso, a estudante e os professores contaram com o apoio do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne), que direcionou o processo com a oferta de capacitações para professores, acompanhamento constante da aluna e diálogo com seus pais.
“Não vou dizer que foi algo simples, porque foi novo para o nosso campus, tivemos algumas resistências. Ela conseguiu ver a grade disciplinar completa, com apoio também de uma professora de Atendimento Educacional Especializado, professora Zurildes Nunes. Foi uma questão de conjunto mesmo, de cada um ajudar o outro”, afirmou a coordenadora do Napne, Márcia Efigênia.
A professora Elis Nogueira era a coordenadora do curso de Viticultura e Enologia quando Tâmara Alencar começou a frequentar a instituição. Para ela é um orgulho vê-la conquistando a formação como tecnóloga.
“Não só eu, acho que todo mundo se sente muito orgulhoso de ver onde Tâmara chegou e nós também, porque conseguimos fazer sua inclusão. Ela não estava simplesmente na sala de aula, a gente fez com que ela aprendesse na sala de aula”, afirma a professora.
Ainda segundo Elis, “a gente conseguiu incluí-la dentro do estudo e isso é um orgulho, é prazeroso ver o desenvolvimento dela e o potencial que tem e onde consegue chegar. A gente foi, durante esse percurso, entendendo a limitação dela e mostrando que ela conseguia um pouco mais, sempre respeitando seu espaço”.
Em seu Trabalho de Conclusão de Curso, a estudante teve como projeto “Elaboração de geleia: uma visão inclusiva”. Segundo a professora Elis Nogueira, que foi sua orientadora, o TCC também foi adaptado de maneira que ela conseguisse passar seu entendimento sobre o assunto. “Tâmara desenvolveu muito bem, lembrou todos os pontos e foi contando dentro da visão dela, da vivência dela de forma prática”.
Os sonhos de Tâmara não pararam nessa conquista que é tão significativa. Ela já decidiu o que fazer como tecnóloga em Viticultura e Enologia: abrir uma loja especializada em vinhos em Juazeiro, onde também pretende elaborar geleias para comercializar.
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