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O Complexo Nego Quirido viveu duas noites inesquecíveis neste fim de semana no Carnaval de Florianópolis, quando as dez escolas de samba desfilaram em um espetáculo grandioso, embalado por sambas-enredos contagiantes e alegorias imponentes. Com arquibancadas lotadas e público vibrante, a folia de 2025 foi marcada pelo modelo de dois dias de desfile, garantindo que todas as agremiações entrassem na avenida sob o brilho da noite.
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Passista da Protegidos da Princesa encantou o público na Nego Quirido, no Carnaval de Florianópolis – Foto: Mafalda Press/ND
O calor intenso foi presença constante nas duas noites de festa. Na sexta-feira (28), uma leve ameaça de chuva trouxe alguns respingos quase imperceptíveis, mas logo o tempo firme predominou.
Com início às 21h e término por volta das 4h da madrugada, em ambos os dias, o novo formato evitou que qualquer escola desfilasse sob o sol forte, proporcionando um espetáculo ainda mais grandioso
Folia dentro e fora da passarela
O público que lotou as arquibancadas e os camarotes saiu com a certeza de ter assistido a um dos melhores carnavais dos últimos anos.
A empolgação não ficou restrita às arquibancadas, já que ao fim dos desfiles, foliões do camarote tomaram a pista, transformando a dispersão em um verdadeiro baile de Carnaval.
O alto nível das apresentações ficou evidente nos sambas-enredos marcantes, coreografias envolventes e fantasias deslumbrantes.
As dez escolas brilharam com baterias potentes, comissões de frente criativas e carros alegóricos de tirar o fôlego.
Anúncio dos campeões do carnaval de Florianópolis
Quem pensa que a festa terminou com o último carro alegórico cruzando a dispersão se engana. Na segunda-feira (3), a partir das 14h, dirigentes e foliões se reúnem novamente na Nego Quirido para avaliações, homenagens e o anúncio dos vencedores do Prêmio Carlos Magno, instituído no ano passado.
A agremiação vitoriosa do Carnaval 2025 será revelada com transmissão ao vivo pelo NDPlay. Após o resultado, as três primeiras colocadas voltam à avenida na terça-feira, às 19h, para o tradicional Desfile das Campeãs.
Carnaval de Florianópolis reafirmado no circuito nacional
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ND Play transmite Carnaval de Florianópolis – Foto: Grupo ND
Com apoio da Prefeitura de Florianópolis e do governo do Estado, a folia deste ano reforçou a intenção de devolver à capital catarinense o prestígio entre os maiores carnavais do Brasil.
As dez escolas entregaram um espetáculo de alto nível, e quem não pôde assistir ao vivo pôde acompanhar como foi o desfile pela NDTV, pelo portal ND Mais, no Jornal ND e nas redes sociais.
A NDTV Record transmitiu o evento com exclusividade, sob o comando de Raphael Polito e Amanda Santos, apoiados por uma equipe multiplataforma de TV, impresso e online, com atuação de diversos profissionais das áreas de jornalismo, técnica e redes sociais.
As escolas de samba do Carnaval de Florianópolis
Nação Guarani – “Os Filhos do Tambor – Espíritos Indígenas, Mensageiros dos Orixás”
A Nação Guarani celebrou 15 anos com um ritual de fé e cultura na Passarela Nego Quirido. O clima foi de pura festa, a escola abriu os desfiles das escolas de samba da Grande Florianópolis em 2025 com uma grande kizomba (celebração).
Em comemoração aos seus 15 anos, a agremiação de Palhoça levou para a avenida o enredo “Os Filhos do Tambor – Espíritos Indígenas, Mensageiros dos Orixás”, transformando a Passarela Nego Quirido em um verdadeiro ritual de fé e cultura.
Para o presidente da escola, Lui Vandré, apenas estar na avenida já era motivo de vitória. Entre as conquistas, destacou a chance de desfilar à noite, uma mudança significativa em relação ao ano passado, quando a apresentação ocorreu às 17h30, sob um sol escaldante.
“Para nós é bem diferente e muito melhor. Estamos muito felizes. A escola veio grande este ano e a expectativa é de um bom resultado”, afirmou Vandré.
Ritual em três atos
Com 1.350 componentes e 23 alas e dois carros alegóricos, além de um portal e um tripé, o desfile foi dividido em três atos, representando uma grande pagelança, um encontro sagrado entre os pajés da Nação Guarani e os orixás, celebrando a ancestralidade e o aniversário da escola.
O primeiro ato trouxe o despertar da aldeia, simbolizado pela comissão de frente e a invocação dos espíritos protetores. Elementos da natureza ganharam vida na avenida, representando a força da conexão entre os mundos espiritual e material.
No segundo ato, o grande tambor – tocado por um indígena de vários metros na primeira alegoria -, guiou o caminho para a chegada dos orixás, representados em alas cheias de cores e simbologia.
A ala de Oxóssi, orixá da natureza e do conhecimento, foi liderada pela destaque de chão Débora Farias, que antes do desfile resumiu a emoção do momento. “O coração está a mil. É sempre uma emoção muito grande representar a escola.”
As crianças também tiveram espaço na homenagem, com uma ala especial dedicada a Cosme e Damião. Entre os pequenos foliões, Júlia Lucas, de 10 anos, desfilou pela terceira vez e confessou a ansiedade antes de entrar na avenida. “Eu me sinto nervosa, mas acho muito legal”, disse.
No ato final, os espíritos indígenas e os orixás se uniram para celebrar a diversidade e a harmonia. A segunda e última alegoria trouxe uma homenagem à trajetória da escola, destacando seus 11 enredos e lembrando Márcio José Schitz, fundador e ex-presidente da Nação Guarani, falecido em janeiro deste ano.
Festa e superação
A Comissão Permanente de Carnaval acompanhou tudo de perto, garantindo o cumprimento das exigências do regulamento. A bateria encerrou o desfile com 97 ritmistas, abaixo do número mínimo exigido, mas a comunidade seguiu com um sorriso no rosto.
No fim, o portão de dispersão foi fechado nos últimos dois segundos, evitando, por pouco, uma penalização por estouro de tempo. Apesar dos desafios, a Nação Guarani desfilou com garra e orgulho, levando para a avenida uma verdadeira celebração de sua história.
Acadêmicos do Sul da Ilha – “Os Sete Segredos do Mar”
A Acadêmicos do Sul da Ilha levou para a avenida uma verdadeira imersão nos “Sete Segredos do Mar”, celebrando a rica tradição pesqueira do Sul da Ilha, comunidade tão presente e essencial na região.
Com aproximadamente 1.500 componentes, a escola da Tapera conquistou o público com sua animação e sorriso no rosto, do começo ao fim. O desfile contou com 19 alas e duas alegorias que levaram o público a uma viagem às profundezas do oceano.
O carnavalesco José Alfredo Beirão, idealizador do enredo, não conseguiu conter a emoção ao falar sobre a dedicação da escola, que este ano também homenageou o fundador e presidente de honra Marcelo Laurindo, falecido em 26 de janeiro.
“A escola vem com muita garra, por vários motivos, e também em homenagem ao nosso presidente de honra. É um desfile preparado com muito carinho e pesquisa entre as comunidades pesqueiras do Sul da Ilha”, contou Beirão, com um brilho nos olhos.
Os sete segredos revelados
A história dos sete segredos apresentou elementos místicos: peixe mágico, bruxas, noite de lua cheia, palácio de corais, serpentes marinhas, tesouros submersos e o fogo de San Telmo.
A primeira alegoria liderou o desfile, transportando o público para as profundezas do oceano, onde esses mistérios ganhavam vida. Ao fundo do carro, um estandarte com a imagem de Marcelo Laurindo e a frase “Para Sempre Marcelo” trouxe um toque a mais de emoção para os componentes da agremiação.
Emocionada, Júlia Gomes, componente do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, recordou o tempo ao lado de Marcelo. “Começamos a ensaiar em abril do ano passado com ele, e ele me conduzia desde os meus nove anos. Desfilo aqui há 11 anos e, com certeza, será um desfile inesquecível”, disse, com a voz embargada.
O mesmo sentimento de emoção foi compartilhado pela Andressa Ouriques, rainha de bateria há seis anos, que destacou a intensidade do momento.
“Cada ano é uma emoção diferente, e a ansiedade só aumenta. Estar aqui é muito gratificante, é um sonho que se renova”, contou, com o coração batendo forte.
O encanto das sereias
O segundo e último carro alegórico do Carnaval de Florianópolis trouxe à vida as sereias, seres mitológicos que habitam o imaginário popular e desempenham um papel fundamental nesta história.
Com seus cantos hipnóticos, elas atraem os navegantes que ousaram desbravar os segredos dos mares. Com o desfile finalizado, a Acadêmicos do Sul da Ilha cumpriu os requisitos observados pela CPC (Comissão Permanente de Carnaval) e encerrando a apresentação em pouco mais de 60 minutos.
Copa Lord – “Ontemanhã: Os Tempos nos Traços de Hassis”
Encerrando a primeira noite de desfiles, a Embaixada Copa Lord transformou a Passarela Nego Quirido em uma imensa tela, homenageando Hassis, o multiartista que eternizou a cultura manezinha em suas obras.
Em seu 70º aniversário, a segunda escola mais antiga da cidade encontrou no enredo uma conexão entre passado e futuro, carregando o espírito “ontemanhã”, onde tradição e vanguarda se entrelaçam.
O carnavalesco William Tadeu explicou que a proposta não era uma biografia, mas sim uma interpretação do olhar de Hassis sobre o mundo.
“O Hassis é arte e identidade de Florianópolis. Buscamos inspiração nas telas dele, entendemos como ele representava a cidade e traduzimos isso para a avenida, mostrando à comunidade sua importância.”
Um desfile de pura arte
Com cerca de 2 mil componentes, 21 alas e dois carros alegóricos, a Copa Lord fez um desfile vibrante, carregado de emoção e identidade cultural. A animação contagiou a avenida, com todos cantando o samba na ponta da língua e batendo na palma da mão.
A rainha de bateria, Caroline Maier, desfilou fazendo sua despedida do posto após dez anos dedicados à escola. “Três anos como rainha e uma década na corte. Agora é hora de espalhar minha energia por novos caminhos. Fico feliz e honrada por ter feito parte dessa história”, declarou.
O primeiro carro alegórico, Relicário das Memórias de Hassis, foi um espetáculo à parte. Com um Hassis esculpido em papel kraft pardo, coberto por respingos coloridos, a alegoria refletia a essência do artista. Portas interativas revelavam reproduções de suas obras, criando um diálogo visual entre memória e criação no Carnaval de Florianópolis.
O brilho de gerações
Uma das cenas mais emocionantes veio no último setor: Aline Mombelli e sua filha, Lara Koerich, desfilaram representando os raios de sol que iluminam novas gerações no Núcleo de Educação Infantil Hassis.
“Desfilamos juntas quando Lara tinha 15 anos, agora, aos 22, estamos aqui juntas novamente. Minha história na Copa Lord começou antes mesmo dela nascer. Fui musa, madrinha, rainha de bateria, e ela sempre esteve comigo. É muita emoção”, contou Aline.
Final colorido e emocionante
O segundo e último carro alegórico trouxe um clima de festa e nostalgia para o Carnaval de Florianópolis. Folhas de bananeira e cabeças carnavalescas decoravam a alegoria, enquanto as netas de Hassis dançavam no alto, celebrando o legado do avô.
À frente, suas filhas, Leilah e Luciana, marcaram presença, emocionadas. O carro ainda surpreendeu ao lançar confetes coloridos, finalizando um desfile que tirou o fôlego do público.
Ao fim, a agremição do Morro da Caixa cruzou a dispersão no tempo exato: 70 minutos, o limite permitido, fechando a noite com uma homenagem inesquecível a um artista que pintou a alma da cidade.
Consulado – “O Jardim Secreto – Nos Delírios de Fritz Müller”
A segunda escola a desfilar na Passarela Nego Quirido, a Consulado mergulhou o público em um universo lúdico e vibrante, inspirado na mente inquieta de Fritz Müller, o naturalista que desbravou a biodiversidade.
Com um enredo narrado em primeira pessoa pelo próprio Muller, o desfile transformou a avenida em um Jardim Secreto, onde fauna e flora ganhavam vida sob o olhar do cientista.
Uma homenagem emocionante
Antes de entrar na avenida, a escola dedicou o desfile à Fernanda Oliveira, diretora cultural da agremiação, que enfrenta um tratamento contra o câncer. O filho dela, Gabriel Oliveira, integrante do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, emocionou-se ao falar sobre sua ausência.
“Mesmo sem estar fisicamente, minha mãe está presente em cada consulense que veste essa fantasia, em cada ritmista e membro da diretoria que fez esse desfile acontecer. Fernanda está presente”, declarou.
A explosão de cores e vida na avenida
Com 1.500 componentes, 19 alas, três alegorias e dois elementos alegóricos, o desfile foi dividido em cinco atos: O Delírio, O Jardim Secreto da Natureza, Da Terra para o Mar, O Jardim das Águas e Um Príncipe no Jardim de Darwin.
O carnavalesco Raphael Soares, autor do enredo, celebrou a realização do sonho. “Ver a avenida tomada pelo colorido que imaginei, sentir a emoção dos componentes e do público, é a certeza de que conseguimos contar essa história do jeito certo.”
E o sonho se materializou. A avenida virou um grande ecossistema, onde borboletas monarcas, abelhas, beija-flores e formigas dançavam entre bromélias e orquídeas, enquanto o mundo marinho também ganhava destaque. Uma das alegorias trouxe um caranguejo gigante soltando bolhas de sabão, criando uma verdadeira imersão oceânica.
A batida do samba e um final grandioso
Com um samba-enredo chiclete, a bateria Ordinária deixou o público cantar alto em diversos momentos. Para a rainha de bateria Thaynara Freitas, que celebrou seu sexto ano no posto, a emoção foi única. “Foi um desfile de garra e determinação, a realização de um ano inteiro de ensaios.”
A última alegoria foi um verdadeiro espetáculo. Nomeada “Entre cartas fui coroado, o Príncipe dos Observadores”, trouxe convidados ilustres, como o escritor Marcelo Vieira Nascimento e o biólogo Alberto Lindner, além do Grupo Cênico Fritz Müller.
No carro, uma mensagem ecoava o pensamento do cientista: “Jamais negará a ciência, quem vê a verdade em cada evidência”, reafirmando sua visão sobre o mundo e fechando o desfile com grandiosidade no Carnaval de Florianópolis.
A Consulado cruzou a dispersão cumprindo todos os requisitos de tempo e número de integrantes, encerrando sua passagem com um espetáculo visual e científico inesquecível.
Jardim das Palmeiras – “Matriarcas do Axé”
Única escola de samba representando São José, a Jardim das Palmeiras emocionou o público da Passarela Nego Quirido com o enredo “Matriarcas do Axé”.
A agremiação celebrou a ancestralidade, a luta e a sabedoria das Yalorixás, mães de santo que perpetuaram seus ensinamentos nas religiões de matriz africana no Brasil e na Grande Florianópolis.
Um desfile carregado de emoção e representatividade
O carnavalesco Fernando Constâncio, ao lado de Christian Fonseca, celebrou a realização de um sonho. “Foi um desfile rico, cheio de detalhes, imponente e expressivo. No ano passado desfilamos com o sol ainda presente, mas neste ano, sob o brilho da noite, nossa escola brilhou ainda mais”, afirmou Constâncio.
Com 1.300 componentes, 17 alas e duas alegorias, a escola trouxe uma narrativa dividida em quatro setores. Antes de entrar na avenida, a emoção já tomava conta da concentração.
Para Fran Soares, apoio do grupo musical do intérprete Guilherme Partideiro, a sensação era única. “Podemos dizer que é um momento de realização. Fizemos um trabalho bonito, com um enredo forte e poderoso.”
As grandes homenageadas giram na avenida
A ala de baianas, que seguiu a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, abriu o desfile saudando o público com suas saias verdes e brancas.
Entre elas estava Ana Regina, mais conhecida como Babaloo do Morro do 25. Aos 62 anos e avó de seis netos, ela fez história ao desfilar por todas as dez escolas.
“Minha energia vem de Deus. Desfilo desde os sete anos. Eu amo, vivo e respiro o Carnaval”, contou. E sua paixão tem inspiração familiar: Nega Tide, uma das grandes figuras do Carnaval de Florianópolis. “Ela era do Carnaval, e eu sou do Carnaval também.”
Axé, resistência e bênçãos na avenida do Carnaval de Florianópolis
Durante todo o desfile, a escola exaltou a resistência feminina, a luta pela liberdade religiosa e a intolerância enfrentada pelas religiões de matriz africana.
O encerramento foi um verdadeiro espetáculo de fé e cultura. A última alegoria trouxe Yalorixás convidadas, entre elas Mãe Celma de Iansã, Mãe Nagela de Xangô, Mãe Viviane de Oxum, Mãe Irani de Oxóssi e Mãe Jessica de Oyá, que derramaram axé e bênçãos sobre a avenida.
Com um desfile carregado de emoção, a Jardim das Palmeiras atravessou a dispersão cumprindo os requisitos mínimos.